Vencedor de eleição para reitor da USP promete reajuste salarial como prioridade

Escolhido em primeiro lugar na eleição interna para ser o novo reitor da USP (Universidade de São Paulo), o médico Carlos Gilberto Carlotti Júnior disse que a recomposição salarial de professores e servidores é possível dentro do orçamento da instituição e é uma das prioridades da próxima gestão.

A chapa “USP Viva”, encabeçada por Carlotti, foi a mais votada pela Assembleia Universitária realizada na quinta (25). Ela também recebeu mais votos na consulta acadêmica, que é feita com alunos, professores e servidores, mas sem caráter deliberativo.

A confirmação de Carlotti como reitor ainda depende da escolha do governador João Doria (PSDB), que deve receber nos próximos dias a lista formada pela eleição interna da universidade.

Neste ano só duas chapas concorreram e terão seus nomes indicados ao governador.

A escolha do novo reitor pelo governador costuma ser uma formalidade, visto que em quase todas as ocasiões os candidatos mais votados pelo colégio eleitoral foram nomeados. A última vez em que a decisão interna não foi acolhida foi em 2009, quando o então governador José Serra (PSDB) preferiu o segundo colocado, João Grandino Rodas.

Carlotti, que é professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e foi pró-reitor de Pós-Graduação do atual reitor Vahan Agopyan, diz ter “expectativa bastante favorável” da confirmação de seu nome por Doria.

“Nossa chapa é formada por duas pessoas que já atuaram como diretores de unidades e pró-reitores. Temos uma participação grande dentro da universidade há muitos anos e muito apoio dos colegas. O governador vai ficar bem tranquilo ao analisar nosso currículo e nossas propostas”, disse em entrevista à Folha nesta sexta (26).

A chapa tem como vice-reitora a professora Maria Arminda do Nascimento Arruda, ex-diretora da FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas) e coordenadora do escritório USP Mulheres.

Uma das políticas defendidas por Carlotti é a recomposição salarial dos docentes e servidores com base na inflação e até mesmo uma proposta de aumento real nos próximos quatro anos. Ele também diz que vai recompor o quadro de docentes da universidades.

As medidas vão na contramão do que ocorreu na última gestão, que congelou salários e novas contratações no ano passado com a expectativa de queda do orçamento como reflexo da pandemia —o que não se confirmou.

Para Carlotti, a atual situação financeira da universidade é confortável e permite a recomposição salarial sem comprometer o orçamento da instituição. “Tivemos uma inflação muito alta nos últimos dois anos, o que se refletiu no ICMS e garantiu essa posição mais confortável para a universidade. Sem a recomposição, você desqualifica o servidor e a universidade se torna pouco atrativa para os bons profissionais.”

A principal fonte de receita das universidades estaduais paulistas é a cota fixa de 9,57% da receita do estado com o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). No início de 2020, havia previsão de que a arrecadação do tributo tivesse redução de 11,5%, no entanto, a queda foi de 3,8%.

Carlotti lembra que, no auge da crise financeira entre 2014 e 2016, a USP chegou a gastar mais com salários do que recebia de receita. Em setembro deste ano, último dado disponível, o comprometimento do orçamento com a folha de pagamentos estava próximo de 60%.

Por isso, diz que sua intenção é que o quadro de docentes volte a um patamar semelhante ao que a universidade tinha em 2014. Só entre 2015 e 2019, a USP perdeu 7% do total de professores, passando de 6.129 para 5.699.

Antes da chegada da pandemia, o reitor Agopyan pretendia recompor o quadro de docentes em 2020, mas suspendeu o plano por receio da retração econômica no país.

Além das medidas para os servidores, Carlotti também apresentou como proposta a criação de uma Pró-Reitoria de Inclusão Social e Diversidade para integrar e criar ações de permanência estudantil, políticas de inclusão social, étnico-raciais e de gênero.

A USP, foi uma das últimas das principais universidades públicas do país a adotar cotas, e só alcançou no ano passado o patamar de mais de 50% dos alunos oriundos de escolas públicas, dos quais 44,1% autodeclarados pretos, pardos ou indígena. O mesmo perfil ainda não é visto no quadro de docentes e servidores, que é majoritariamente formado por homens e brancos.

“A USP, assim como outras universidades brasileiras, fez um processo de inclusão muito grande que precisa ser seguido por um processo de permanência. Sem ações adequadas para a permanência desses estudantes, vamos ter aumento da evasão escolar, explosão de problemas de saúde mental, entre outros problemas.”

​Segundo ele, a proposta prevê que a pró-reitoria articule e fortaleça as ações que já existem nos diferentes campi da USP. Também diz que as medidas serão voltadas para alunos, professores e servidores.

Carlotti diz que também quer fortalecer a atuação da USP na sociedade, tanto para cobrar ações do governo federal no financiamento da ciência como para a prestação de contas do que é produzido na universidade.

A Capes, que vem sofrendo sucessivos cortes de orçamento no governo Jair Bolsonaro (sem partido), é a principal fonte de financiamento de bolsas de pesquisa da USP. “Precisamos insistir com o governo federal para que essas diminuições não ocorram e também pedir pela valorização do valor da bolsa, que desde 2013 não é reajustada. Isso é muito preocupante para a pesquisa do país.”

Outro desafio do próximo reitor é o retorno das aulas presenciais na USP no próximo ano. Apesar de já ter sido autorizada a retomada, a maior parte das unidades decidiu por continuar com o ensino remoto neste ano.

“Imagino que a situação da pandemia no próximo ano vai estar muito mais favorável que a atual, por isso, acredito no retorno presencial. A vocação da USP é o ensino presencial, a convivência, a interação entre as pessoas.”

A outra chapa que concorria era a “Somo todos USP”, que tem como titular Antonio Carlos Hernandes, professor do IFSC (Instituto de Física de São Carlos), e como vice-reitora Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado, docente da FOB (Faculdade de Odontologia de Bauru).

O dirigente escolhido por Doria será parte da 28ª gestão da reitoria da universidade, e tomará posse no dia 25 de janeiro de 2022, tendo pela frente um mandato de quatro anos. ​


PUBLICIDADE
Imagem Clicável