Serviços sustentam alta do PIB, com turismo puxando recuperação de atividades arruinadas pela pandemia

Economia brasileira cresceu 2,9% em 2022 com a reabertura plena após o impacto da pandemia. Pesquisa Mensal de Serviços, realizada também pelo IBGE, aponta para um crescimento de mais de 24% destas atividades no ano. Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, durante o réveillon de 2023, que marcou a plena retomada do turismo após dois anos sem festa da virada por causa da pandemia
Júlio Guimarães/ Riotur
A alta do PIB em 2022, puxada pelo setor de serviços, consolida a plena retomada da atividade econômica no Brasil após dois anos de restrições impostas pela pandemia de Covid-19. O ano de 2022 terminou com alta de 2,9%, informou nesta quinta-feira (2) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O turismo é fator determinante deste movimento, pois permitiu a completa recuperação de atividades do setor, severamente prejudicadas pela crise sanitária. São atividades importantes como alojamento, alimentação e recreação.
“Com certeza, o turismo foi um dos destaques de 2022, pois tivemos a reabertura plena da economia”, afirmou a economista Silvia Matos, coordenadora do Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas.
Dados específicos do setor de turismo não estão entre aqueles monitorados para o cálculo do PIB. Alojamento e alimentação, por exemplo, estão relacionados entre os serviços prestados às famílias. Mas a Pesquisa Mensal de Serviços, realizada também pelo IBGE, aponta para um crescimento de mais de 24% destas atividades no ano.
“No PIB, isto tudo está dentro de uma grande atividade de ‘outros serviços’. Segundo estimativas do Boletim Macro, ela cresceu 11,5% em 2022. E os serviços prestados às famílias são um dos grandes destaques do ano. Isso era esperado com o fim da pandemia”, enfatizou Silvia Matos.
A economista da FGV destacou que um relatório de atividade produzido pelo Itaú Unibanco, com base nos gastos diários de clientes com cartões de crédito e débito em bens e serviços, ilustra bem a retomada da atividade turística no país em 2022.
“Um gráfico com o desempenho, desde 2020, de várias aberturas dos serviços prestados às famílias mostra que que alojamento, alimentação e recreação foram os grandes destaques de 2022”, apontou Silvia.
Gráficos feitos a partir de indicadores de gastos dos consumidores em compras com cartão de débito e crédito mostram o avanço, em 2022, em serviços de alojamento, alimentação e recreação.
Reprodução/IDAT Itaú
Hotelaria carioca supera patamares pré-pandemia
Principal polo turístico no Brasil, a cidade do Rio de Janeiro voltou a ver seu setor hoteleiro em festa em 2022. Ao final do ano, a ocupação dos hotéis, a mão de obra empregada e o faturamento do setor como um todo superaram os patamares pré-pandemia.
“O balanço do ano mostra que o setor hoteleiro no Rio de Janeiro voltou a faturar, a contratar pessoal, a pagar impostos, a gerar riqueza econômica”, enfatizou Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado do Rio de Janeiro (ABIH-RJ).
De acordo com o sindicalista, o grande destaque do ano foi a recuperação dos valores das diárias dos hotéis no Rio. “Em alguns casos, com mais de 20% de reajuste nas tarifas. Sem hóspedes, os hotéis tiveram que derrubar as tarifas durante a pandemia”, destacou
Segundo Lopes, a ocupação dos hotéis cresceu, em média, cerca de 15% na comparação com 2021. Por sua vez, a volta dos turistas impactou diretamente no mercado de trabalho, com a reabertura de vagas de emprego extintas com a demissão de trabalhadores no primeiro ano de pandemia.
“Somando as contratações extras, em regime temporário, para os grandes eventos do ano, o pessoal ocupado no setor também superou o patamar pré-pandemia”, destacou Lopes.
Variante ômicron freou decolagem
Os ganhos promovidos pela retomada do turismo na rede hoteleira do Rio poderiam ter sido ainda maiores se a pandemia da Covid-19 tivesse, efetivamente, chegado ao fim. A variante ômicron do coronavírus, que surgiu no início do ano passado, manteve restrições a alguns serviços, sobretudo no mercado internacional, retardando a visita de turistas estrangeiros ao país.
“O período de férias de início do ano foi totalmente afetado pela ômicron. Com certeza, o turismo e o setor de eventos em geral foram os mais afetados por esse desdobramento da pandemia”, apontou a economista da FGV Silvia Matos.
Além de impactar o chamado turismo de lazer, a ômicron manteve firme o freio no turismo corporativo. Segundo a ABIH-RJ, ao longo do primeiro semestre eventos sociais suspensos pela pandemia ajudaram o turismo corporativo, mas não o completaram. A ocupação dos hotéis nos dias úteis só voltou a crescer em novembro.
Dois carnavais, Rock in Rio e réveillon dos gringos
Os dados da ocupação na rede de hotéis do Rio ao longo do ano de 2022 mostram que a retomada do turismo se deu de forma fragmentada. Ela teve picos em cada um dos trimestres, e ganhou mais fôlego no último.
“Tivemos um verão bom, com ocupação acima de 70% em janeiro, e porque tivemos dois carnavais — em fevereiro, não teve a festa de rua, mas os brasileiros, ou seja, os turistas domésticos viajaram”, contou o presidente da ABIH-RJ, Alfredo Lopes. “Depois, em abril, tivemos o segundo carnaval, com a ocupação dos hotéis em patamar semelhante do primeiro.”
Novo pico de hóspedes só voltou a ser registrado em setembro, quando o Rio sediou, por duas semanas, mais uma edição do Rock in Rio. “Foi um ponto fora da curva, porque o evento impulsionou maior taxa mensal de ocupação dos hotéis do Rio”, destacou Lopes.
O mundialmente famoso réveillon carioca trouxe, por fim, um novo pico da ocupação na rede hoteleira em dezembro. O destaque ficou pela mudança no perfil do turista presente na cidade. Segundo a ABIH-RJ, quase dobrou a presença de turistas estrangeiros na comparação com a média histórica.
“Tivemos um réveillon incrível, diferente do habitual. Geralmente tínhamos cerca de 22% de turistas internacionais. Nas olimpíadas, este percentual chegou a 26%. Já neste réveillon chegou a 40%”, destacou o presidente da entidade.
Lopes ressaltou que esta mudança no perfil do turista impacta diretamente no consumo, já que os estrangeiros gastam mais que os brasileiros. “Também surpreendeu o aumento de turistas norte-americanos e europeus, que tiveram presença muito mais marcante que a dos sul-americanos”, enfatizou.
Empresária Cláudia Mendes posa para foto em meio à uma das lojas de sua rede de lavanderias que foi totalmente reestruturada e ganhou, inclusive, maquinário novo em 2022, ano que marca a plena recuperação de seus negócios
Arquivo Pessoal
Turistas recuperam totalmente serviço de lavanderias
A retomada do movimento turístico no Rio promoveu plena recuperação também do serviço de lavagens de roupas. A empresária Cláudia Mendes, dona de uma rede de lavanderias na Zona Sul da cidade, diz que, além de retomar o faturamento ao mesmo patamar pré-pandemia, conseguiu investir no negócio.
“Nós estamos numa fase tão boa quanto antes a pandemia, e voltamos a ficar otimistas”, comemora.
Exatamente dois anos antes, em março de 2021, diante da divulgação do PIB de 2020, Cláudia disse ao g1 que vivia “a fase mais difícil” de seu negócio. Com faturamento pela metade e acúmulo de dívidas, ela viu a empresa “100% no vermelho” e temia se tornar inviável sua manutenção. Naquela época, ela já sabia que somente o turismo seria capaz de reestabelecer a saúde financeira da empresa.
A empresária destacou que poderia ter ido além da recuperação plena do negócio em 2022 não fossem as dívidas contratadas para manter a operação das lojas no longo período de faturamento reduzido. Os empréstimos só serão quitados em meados de 2023.
A rede de lavanderias de Cláudia está entre os pequenos negócios que o g1 passou a acompanhar de perto desde março de 2020, quando começou a pandemia. Na primeira entrevista, ela disse ter visto o faturamento cair 70% diante da crise provocada pelo coronavírus.
Ao fazer o balanço destes três anos, a empresária diz que, enfim, recuperou o tapete que lhe foi puxado pela crise sanitária.
“Eu lembro que disse na reportagem que a sensação é que puxaram nosso tapete em 2020. Em 2021, a gente só se endividou. Em 2022, a gente foi só pagando e chegamos ao final conseguindo equilibrar as contas. Começamos 2023 com as contas em dia, só resta quitar os empréstimos para, enfim, voltarmos a ver crescimento”, disse.


PUBLICIDADE
Imagem Clicável