REVIEW | Esquadrão Suicida tem boas intenções, mas decepciona

Suicide Squad: Kill the Justice LeagueSuicide Squad: Kill the Justice League
Créditos: Divulgação/Warner Bros

Eu queria começar esta análise falando o quanto me diverti com Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça. De fato, a Rocksteady entrega um serviço satisfatório em muitos critérios que chega a ser injusto o quanto o jogo foi massacrado antes mesmo do lançamento.

Mas, preciso ser sincero: assim como um bom café, o sabor que Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça entrega no final é amargo, com um sentimento genuíno de que poderia e deveria ter sido melhor. E quem sabe uma hora seja.

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Avaliar um jogo deste calibre é desafiador. Primeiro porque se trata de um universo com décadas e gerações de fãs que vão ter olhares bem diferentes das obras. Segundo porque a Rocksteady, estúdio responsável pelo game, entregou uma trilogia de Batman com tamanha qualidade na última década que é impossível fazer um review sem levar em conta os games anteriores.

Há uma grande expectativa em jogo. Não só dos críticos, mas sim de uma legião de pessoas que aguardam mais de dez anos por um novo título AAA de um estúdio consagrado, premiado e aclamado tanto quanto foi a trilogia dos Cavaleiros das Trevas nos cinemas.

Isso dito, seria utópico não comparar as entregas e avaliar apenas o jogo isoladamente. Assim como acontece quando um diretor do tamanho de Quentin Tarantino ou Martin Scorsese dirige um novo longa.

Pelo fato do jogo ser anunciado inicialmente como um “jogo como serviço”, ainda temos, fora da Rocksteady, comparações com Marvel’s Avengers e The Division, fato este que acentua demais a avaliação dos pontos fortes e fracos.

A Rocksteady entrega um serviço satisfatório em muitos critérios, mas o sabor final é amargo, com um sentimento genuíno de que poderia (e deveria) ter sido melhor.

A força do roteiro e das atuações

Embora a história seja plenamente dispensável, a forma de contá-la é sim envolvente — através de cutscenes que são excelentes e com diálogos rápidos e bem escritos. O enredo começa de forma relativamente previsível: Brainiac, um dos vilões mais conhecidos de Super-Homem, planeja tomar conta da Terra e recriá-la à sua imagem, começando por Metropolis. 

Para obter sucesso e para a surpresa de zero pessoas, ele tenta controlar as mentes dos heróis mais poderosos do planeta, a Liga da Justiça, composta de Super-Homem, Mulher Maravilha, Batman, Flash e Lanterna Verde.

Sendo assim, o Esquadrão Suicida é “convocado” para detê-los a qualquer custo, ou seja, à la 007 temos permissão total para matar. Tudo em prol de tornar os anti-heróis em verdadeiras máquinas de guerra sem causar muito remorso no jogador. E até aí tudo bem.

Arlequina, Pistoleiro, Capitão Bumerangue e o Tubarão-Rei possuem traços bem distintos de personalidade e seus diálogos durante o jogo todo merecem elogios. Os roteiristas da Rocksteady trabalharam bem para entregar um humor que não é escrachado demais e nem banal, até mesmo com piadas sem graça que são aceitáveis dentro da prerrogativa da história. 

Esquadrão Suicida: Mate a Liga da JustiçaEsquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça
Warner Bros. Games

As atuações da Arlequina, da Liga da Justiça e de personagens coadjuvantes também têm performance esperada.

Porém, o destaque mesmo vai para o Batman de Kevin Conroy, com atuação estupenda e bem sombria para o Cavaleiro das Trevas, que desenvolve um personagem sólido e com passagens memoráveis na curta duração da campanha. A crueldade entregue por uma Amanda Waller convincente também é notável, contudo ofuscada por missões incrivelmente chatas.

Apesar de muito previsível para os fãs da DC, a história fica interessante lá pelo terceiro ato do jogo, explorando os velhos clichês dos quadrinhos e entregando um ótimo fan service, evocando lampejos dos dias de glória da trilogia Arkham, justamente pelo desenvolvimento dos personagens.

Inclusive, o jogo recapitula em vários momentos os títulos anteriores para dar uma sensação de pertencimento e sequência. Até com os enigmas do Charada, presentes novamente.

Mudança ousada no gameplay

Se de um lado a Rocksteady jogou mais seguro e marcou pontos no enredo, o sistema de combate apresentou uma mudança significativa em relação aos jogos anteriores. Uma alteração ousada e que promove sentimentos bem ambíguos.

Ao invés do combate corpo a corpo estratégico, em Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça o estúdio escolheu seguir pelo caminho de um shooter em terceira pessoa, transformando o esquadrão em verdadeiros Rambo que esquivam e atiram desenfreadamente contra inimigos grotescos.

Se você curte alguns jogos para desligar o cérebro e deixar no automático, vai gostar bastante. Entretanto, por outro lado, se é um velho fã da trilogia Arkham ou de jogos focados em contra-ataque vai ficar desapontado.

O game até tenta incorporar habilidades bem distintas para cada um dos quatro personagens, principalmente em relação à movimentação, mas no final acaba reduzindo eles todos ao mero  “mire, meta bala e pegue sua recompensa”. Esse caminho diminui em muito as possibilidades de enriquecer o level design e torna as missões extremamente repetitivas conforme o tempo passa.

Esquadrão Suicida: Mate a Liga da JustiçaEsquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça
Warner Bros. Games

O combate é movimentado (tanto horizontal quanto verticalmente), intenso e muito caótico, com destaque às recompensas por combos e abates sem receber dano, incentivando que o player seja focado na ofensividade, tal qual temos em títulos como Doom e Wolfenstein.

Contudo, a ampla variedade de habilidades e modificações que podem ser desbloqueadas, acompanhadas de inúmeros tutoriais do começo ao fim do jogo, são realmente exaustivas.

Embora o jogo tenha ritmo e um gameplay sólido e divertido, não há espaço para inovação e nem de longe uma comparação justa com o legado do level design aplicado nos jogos anteriores, que exigiam do jogador usar a cabeça antes de atacar e contra-atacar, utilizando tudo que estava no cenário a seu favor. Por isso, o saldo final é bom, no entanto longe de espetacular.

O tendão de Aquiles

Justamente onde deveria brilhar, Esquadrão Suicida falha miseravelmente: o sistema de loot e o aspecto de grind (repetição de tarefas para progressão do game). Pouco inspirado, muitas vezes lembra os piores momentos de Borderlands, onde a imensidão de armas genéricas dentro de um universo com a riqueza que a DC Comics possui é decepcionante e até desrespeitosa.

Por enquanto não há um motivo sequer para retornar a Metropolis após fechar a campanha.

Você vai basicamente ficar buscando formas de esquivar e circular inimigos para flanquear, atirar e usar um arsenal pobre de rifles, pistolas e submetralhadoras monótonas que sofrem demais de falta de imaginação para os loots que seguem a fio. Por que não usar as armas e os objetos icônicos repletos de história dos quadrinhos? Fica a reflexão tão óbvia.

O game até tenta criar um sistema de upgrade nas armas, mas temos apenas buffs que aumentam o dano crítico ou reduzem o cooldown sem explorar qualquer aspecto único dos protagonistas. Simples e sem graça.

Quanto ao grind, eis o pecado capital: não há motivo algum para continuar jogando após concluir a campanha principal (que dura pouco mais de 10 horas) e entrar no modo “pós-jogo” — que em games como serviço é sempre tratado como “a hora que o jogo de verdade começa”. E aí está o amargor, a frustração em relação à expectativa criada.

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Divulgação/Warner Bros. Games

Não há um único motivo que me faça querer voltar ao jogo após a conclusão da campanha. Afinal, temos como prêmio maior a execução das missões já jogadas, apresentando os mesmos tipos de tarefas cansativas e repetitivas. 

Nem mesmo as incursões (raids) liberadas para jogar cooperativamente se salvam, pois são arquitetadas pelas mecânicas das mesmas missões da campanha e não apresentam sequer um fato ou conflito que contribua para o andamento posterior do game, que depois de um certo fracasso inicial deve penar tal qual Marvel’s Avenger para engatar e pode sofrer do mesmo fim: ser aposentado num futuro breve. Espero que não.

Explorando Metropolis

Metropolis é impressionante e particularmente cheia de brilho e charme, na contramão da sombria Gotham da trilogia Arkham. A cidade vibra e entrega muita verticalidade e visuais coloridos e repletos de partículas.

O nível de detalhes de animação e design é alto e extremamente competente nos personagens, especialmente em seus rostos, onde vemos atuações expressivas e críveis que ajudam demais a dar vida à narrativa, sobretudo no Tubarão-Rei e na Arlequina.

Além disso, a Rocksteady não mediu esforços em criar visuais fiéis às suas contrapartes nos quadrinhos, ao mesmo tempo que explorou toques artísticos próprios que conferem a sua assinatura de alta habilidade técnica, o que sem querer contribui para o sentimento de ambiguidade e frustração, pois o jogo tinha tudo para ser estrondoso se assumisse um caminho single player no estilo dos anteriores.

Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça foi projetado para ser jogado em equipe, seja com os amigos em multiplayer online ou através de bots, neste caso permitindo que você alterne entre os personagens em qualquer momento.

Durante os testes, nas poucas partidas cooperativas que consegui entrar pela falta de jogadores, a dinâmica foi ok graças às habilidades únicas de cada membro do Esquadrão Suicida, exigindo que haja comunicação e trabalho em equipe para obter êxito.

Isso adicionou uma camada extra de estratégia e profundidade que certamente me deu horas extras dentro de Metropolis, entretanto que não se sustentou a ponto de me fazer querer retornar todo dia para conseguir mais loot e fazer as missões idênticas. 

Espero que a Rocksteady escute o feedback do público e traga expansões mais assertivas, cuja expectativa também permanece alta graças às revelações recentes de que teremos novos personagens, ambientes e histórias sem cobranças extras.

A primeira expansão, que chega em março de 2024, aliás, deve focar no Coringa (que afinal faz parte do Esquadrão Suicida), mas — spoiler! — como ele morreu nos jogos anteriores dá a entender que será incluído uma espécie de multiverso que altere a linha do tempo e dê restart em muitas coisas. Veremos.

Conclusão: Esquadrão Suicida vale a pena?

Até o momento, Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça nem parece ter sido produzido pela Rocksteady que aprendemos a amar. Com um gameplay que sofre de crise de identidade e uma falta de criatividade nas missões que ofusca o belo trabalho do roteiro, o jogo naufraga justamente naquilo que deveria ser sua maior competência: a progressividade.

Até o momento, Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça nem parece ter sido produzido pela Rocksteady que aprendemos a amar.

O pós-jogo vazio, o modo coop mediano e a incerteza se todas temporadas subsequentes serão gratuitas e trarão conteúdo que agregue são insuficientes para manter você esperançoso após terminar a pequena campanha e trazem insegurança em relação ao investimento do preço cheio.

Por enquanto, é melhor esperar por uma boa promoção ou por maiores indícios de melhorias, como vimos na retomada de Cyberpunk 2077.

Em conclusão, o jogo carrega o peso das altas expectativas, derivadas do sucesso dos games anteriores e também do rico universo inexplorado da DC Comics. Enquanto brilha na narrativa, nos gráficos e na construção do mundo, luta para fornecer uma experiência consistente e coesa de um gameplay de tiro baseado em loot e grinding.

Para os fãs da DC e apóstolos da série Arkham, como eu, certamente encontrarão pequenos momentos de diversão e reconhecimento, mas aqueles que procuram por uma evolução no gênero de ação e aventura vão encontrar-se desejando algo mais. 

Prós

Narrativa envolvente e excelente roteiro

Gráficos e animações impressionantes

Dinâmica coop divertida

Contras

Gameplay com crise de identidade

Missões extremamente repetitivas e com level design pobre

Sistema de loot e grind decepcionante

Pós-Jogo vazio

Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça está disponível para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S. Jogamos o game no PS5 com um código fornecido pela Warner Bros.


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