Quem é a inventora da bola que acumula energia apoiada por astros da NBA

Para jogar futebol não é preciso equipamentos avançados. Imagine então se a simplicidade de rolar uma simples bola fosse aproveitada para gerar energia? Foi uma tecnologia assim que a pesquisadora norte-americana com ascendência nigeriana Jessica O. Matthews desenvolveu.

A iniciativa, que surgiu durante seu tempo como aluna da Universidade de Harvard em 2008, envolveu pesquisas com geradores de energia à combustão. Após um tempo se debruçando sobre o tema, ela chegou a Soccket, uma bola de futebol com um dispositivo interno que acumula energia cada vez que é chutada.

De acordo com Matthews, um jogo de futebol com a Soccket seria o suficiente para manter um ventilador ligado por 30 minutos.

O sucesso foi tanto que até o então presidente dos EUA Barack Obama ensaiou algumas embaixadinhas com a bola. Astros da NBA, a liga profissional de basquete dos EUA, também apoiaram o projeto.

Após se formar em Harvard, ela montou a startup Uncharted Play, em 2011. Sua ambição é torná-la referência em energia sustentável. Além da bola, a empresa desenvolveu uma corda capaz de acumular energia.

Entre os investidores da empresa está Magic Johnson, um dos maiores jogadores da história do esporte.

“Magic Johnson e eu temos um interesse comum em investir em infraestrutura e comunidades carentes. Ele investiu em 2016, viu como estávamos crescendo e [em 2019] disse: ‘acho que você está pronta para mim, posso nos colocar em comunidades diferentes”, disse ela em entrevista ao site Politico, no ano passado.

A tecnologia da bola

O invento usa uma tecnologia patenteada pela empresa criada pela pesquisadora. A bola funciona graças a um pêndulo de zinco interno, capaz de captar energia durante o movimento da bola.

Esse pêndulo está ligado a um gerador que, por sua vez, está conectado a uma bateria, que vai armazenando a carga —toda essa engrenagem faz com que a bola pese algo em torno de 60 gramas a mais do que uma bola de futebol comum.

A tecnologia começou a ser vendida em 2010 pela plataforma Kickstarter, um site de financiamento coletivo, e arrecadou, na época, algo em torno de US$ 92 mil — o objetivo era US$ 75 mil.

Durante a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, a bola chegou a sua segunda geração e custava US$ 99. Quando a empresa esteve no Brasil, afirmou que a cada produto comprado, uma bola era doada para uma criança em países da África e da América do Sul.

Como a ideia surgiu

A ideia da Soccket ganhou forma após a ida da pesquisadora ao casamento uma tia na Nigéria antes de 2008. Durante a festa, a energia acabou e foram utilizados geradores a diesel — o que não só produziu energia, mas também muita fumaça, que atrapalhou a festa.

“Eles disseram: ‘não se preocupe, você vai se acostumar [com a fumaça]’. Isso me incomodou muito porque eram eles me dizendo para essencialmente me acostumar a morrer. O que foi ainda mais triste foi que estava muito claro que era isso que eles se acostumaram a fazer”, disse ela, em entrevista ao site Business Insider, em 2016.

Desafios técnicos

Apesar da ideia promissora, a Soccket conquistou menos fãs do que o esperado. Pessoas relataram na época do lançamento que o sistema de carregamento de energia a partir da bola quebrava após pouco tempo de uso.

Atualmente, não é possível encontrar o produto para ser adquirido na internet — apenas em sites com mercadorias usadas.

“Nunca faremos a melhor bola de futebol, nunca faremos a melhor corda de pular, nunca faremos o melhor carrinho de bebê”, disse Matthews. “Então, por que não podemos apenas fazer parceria?”

Mudança de rumos

A startup da empresária atualmente não tenta resolver problemas técnicos da bola criada por ela para gerar energia. Os planos se tornaram maiores e ela se dedica a projetos que visam solucionar o problema de energia renovável na África.

“A ideia por trás da primeira invenção [o Soccket] era tentar abordar o lado da inspiração. Mas sempre soube que o verdadeiro problema era um problema de infraestrutura”, disse ela em entrevista ao site Politico.

Segundo ela, para resolver o problema energético no mundo é necessário pensar em três coisas: tecnologia, políticas do governo e modelo de financiamento do projeto.

Com sede no Harlem, bairro de Nova York, a empresa possui uma instalação de teste e demonstração de geração de energia no interior do estado norte-americano. O foco para os próximos dois anos é fazer parceria com governos municipais e conseguir financiamento, de acordo com informações da Forbes.

Inspiração para novas lideranças mulheres

Para Matthews, um ponto importante da parceria com jogadores da NBA como Magic Johnson é o alcance que eles possuem. E isso pode ajudar no combate ao preconceito contra mulheres negras ocupando cargos de lideranças dentro da área de tecnologia — mercado tecnológico ainda é predominantemente masculino e branco.

“Os jogadores da NBA são homens realmente brilhantes, mas são homens negros, e todos eles têm filhas. Portanto, não é tão difícil para eles contemplar o conceito de que poderia haver uma mulher negra visionária brilhante”, afirmou.

De acordo com Jessica, esse tipo de apoio é importante para diminuir julgamentos e incertezas em cima das mulheres empreendedoras.

“Como CEOs [presidentes-executivas], tendemos a permanecer em nosso caminho e apenas fazer aquilo que dará certo. Demorou até que eu me sentisse confortável, mesmo que remotamente, com a ideia de resolver problemas de nível de infraestrutura”, disse à revista Forbes.

“Eu costumava pensar: ‘se não sou a melhor pessoa para fazer algo, devo fazer?’ E agora digo que certamente não é hora de me acovardar”, completou.


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