Por que a Netflix não trava? Conheça a tecnologia por trás do streaming

Você já notou como a Netflix dificilmente trava, sai do ar ou demora para carregar durante a exibição de um filme ou série? Isso fica ainda mais claro quando se compara com outros serviços de streaming. A razão para isso se chama “Open Connect”, uma espécie de atalho construído entre o conteúdo da Netflix e o seu computador, celular ou smart TV.

Em reportagem publicada no site The Verge, a Netflix deu detalhes sobre o misterioso sistema e reconheceu a sua importância no sucesso dos seus negócios. Mas o que é o Open Connect e como ele funciona?

Trata-se de uma rede de servidores focada na distribuição de conteúdo, especificamente criada pelo maior serviço de streaming do planeta para entregar seus filmes e séries sem problemas técnicos. Basicamente, o que a Netflix fez foi instalar dispositivos físicos ao redor do mundo que reduzem o caminho que os filmes e séries precisam fazer para chegarem até chegar a você.

Esses dispositivos físicos possuem cópias de conteúdo da Netflix. Ao fazerem isso, causam menos problemas de lentidão na rede, porque eliminam as etapas pelas quais o conteúdo precisa passar até chegar ao espectador.

Pense num mapa de metrô. Para atravessar a cidade, muitas vezes é preciso cruzar várias estações e linhas diferentes, saindo de um trem e entrando em outro. É nesse processo que os dados podem se perder, atrasar ou gerar engarrafamentos.

O que a Netflix fez foi espalhar cópias das suas séries em filmes em várias “estações” ao redor do mundo. Assim, você não precisa fazer baldeações em diversas linhas para chegar ao seu conteúdo —ele geralmente pode ser acessado na estação (ou servidor) mais próximo da sua casa.

Ao todo, a Netflix possui 17 mil servidores em 158 países diferentes, segundo o The Verge — e pretende continuar expandindo essa rede de distribuição.

Vantagem sobre a concorrência

A principal diferença entre a Netflix e seus concorrentes é que a maioria deles utiliza CDNs (sigla em inglês para redes de fornecimento de conteúdo) terceirizadas. Esses CDNs são sistemas interligados de computadores e redes, voltados a enviar conteúdo de forma massiva para diversas pessoas.

Ao usar um CDN de outra empresa, serviços como HBO Max ou Disney+ dependem de uma engenharia fora do seu controle e que muitas vezes é dividida com várias outras companhias. O Open Connect é o CDN proprietário da Netflix, e ter um sistema próprio desses exige um alto investimento.

Sem o Open Connect ou usando um CDN terceirizado (geralmente mais barato), o streaming pode ficar mais lento: ao clicar em “play”, o espectador faz uma requisição por conteúdo, que é repassada por várias redes até chegar à origem —ou seja, ao local em que está armazenado aquele filme ou série que ele quer assistir.

Os dados desse filme são então enviados de volta, refazendo o mesmo caminho até chegar no espectador. E no caminho podem se perder ou atrasar no emaranhado de redes e servidores que ele precisa atravessar.

O sistema da Netflix permite que ela envie cópias do seu conteúdo aos seus servidores, evitando o congestionamento no tráfego de dados. Como esse conteúdo fica armazenado em vários servidores físicos, em diversos pontos do planeta, isso também impede que haja lentidão mesmo nos momentos em que mais gente está conectada querendo ver filmes e séries.

“Nós, do Open Connect, levamos uma cópia de ‘Bridgerton’ até o local mais próximo do seu provedor de internet. Às vezes, até mesmo dentro da rede do seu provedor de internet, e isso basicamente evita o fardo que o provedor teria de enfrentar indo buscar [o episódio] e transferir por vários servidores até que chegue a você”, resume Gina Haspilaire, a vice-presidente de Open Connect na Netflix, em entrevista ao The Verge.

É fácil traduzir isso de forma prática: nos primeiros 17 dias da série “Round 6” na plataforma, ela foi assistida por 111 milhões de perfis da Netflix —o maior sucesso de audiência que a companhia já teve no lançamento de uma série. E, ainda assim, não houve problemas generalizados de travamento ou velocidade reduzida.

É bem diferente do que rolou com o Disney+, por exemplo, no dia do lançamento do serviço de streaming no Brasil, que teve problemas por conta do alto volume de acessos. O HBO Go também sofreu para exibir os episódios finais de “Game of Thrones” em 2019.

A dor de cabeça para os concorrentes em igualar o serviço é tanta que, em agosto, com pouco mais de um mês em funcionamento, a HBO anunciou que seu aplicativo de streaming, o HBO Max, seria refeito “do zero”. Um executivo da empresa chegou a dizer que era “doloroso” aguentar as piadas e críticas feitas ao app.

E quando a internet é que é lenta?

Mesmo se você tiver um provedor de internet ruim ou de baixa velocidade, a Netflix consegue entregar o que você quer ver sem grandes problemas, e ela faz isso enviando três diferentes cópias do seu conteúdo, cada uma com um nível de qualidade de imagem.

Então, por exemplo, se o seu provedor de internet oferece um serviço lento ou está sobrecarregado, o sistema consegue exibir a versão de menor qualidade de imagem, garantindo que você assista ao que quer sem interrupções.

“Nós adaptamos o conteúdo à qualidade da rede, e não o contrário”, explica Haspilaire ao The Verge. “Por isso, você não nota quando sua rede tem um probleminha, já que o streaming se mantém constante.”

Investindo tempo e dinheiro

É claro que, para chegar ao nível do Open Connect, não foi do dia para a noite. Segundo as informações obtidas pelo The Verge, a Netflix começou a trabalhar nesse sistema há quase uma década, em 2012.

De acordo com Dan Rayburn, especialista em streaming ouvido pelo site, uma das razões para que a empresa seja a líder nesse mercado é o Open Connect, “algo que praticamente todo mundo que está fora da área técnica desta indústria subestima”.

A Netflix não revela em detalhes quanto já gastou para construir o seu sistema diferenciado e quanto ele custa para ser mantido, mas diz que já investiu cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões, na cotação atual) no Open Connect desde a sua criação.


PUBLICIDADE
Imagem Clicável