Registrou a Lua brilhante em uma noite perfeita, mas ela virou uma bolinha borrada e sem graça? Via a imagem dela gigantesca no céu, mas, quando pegou o registro no celular, ela havia perdido todos os detalhes e até ficou sem suas tão conhecidas crateras? Há muitas razões que explicam esses fenômenos.
Uma delas é nossa obsessão com selfies.
Especialistas ouvidos por Tilt afirmam que, atualmente, a grande maioria dos celulares e câmeras não profissionais têm lentes próprias para cenas grandes e cheias de elementos —o que não é o caso da Lua no céu.
Chamado de grande-angular, esse sistema de lentes tem um ângulo de visão maior do que o do olho humano, portanto suas fotos capturam uma área maior do que a que conseguimos ver.
As fabricantes de câmeras começaram a preferir as grande-angulares devido à demanda dos usuários amadores.
“Os usos mais comuns favorecem fotos com ângulo grande. É só pensar em situações como o palco de um show, uma praia ou uma selfie com metade do corpo. Os consumidores tinham dificuldade de abranger tudo na foto. É muito raro tirar foto do Sol ou da Lua”, explica Luli Radfahrer, professor de fotografia da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo).
As novas lentes facilitaram o registro para muitos entusiastas da fotografia, não sendo mais necessário tirar foto no espelho para fazer uma boa selfie.
Mas o recurso não vem de graça.
“Para incluir um campo de visão maior, as objetivas grande-angulares fazem com que as imagens dos objetos fiquem menores”, explica Paulo Baptista, professor de fotografia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
“Por isso que tirar selfie deixa a gente com um nariz de batata”, complementa Radfahrer.
Isso explica a Lua pequena e borrada?
Não totalmente. Há, pelo menos, outros dois fatores que contribuem para a frustração na hora de ver como ficaram as fotos.
O primeiro é a chamada superexposição. Câmeras utilizam um medidor de luz no modo automático para tentar encontrar o melhor equilíbrio para o quadro.
O recurso é eficiente, mas não inteligente: ele não identifica os objetos fotografados e faz uma média do que está capturando.
Fotos noturnas da Lua geralmente têm muito mais céu escuro em seu enquadramento.
“A avaliação desse sistema indica que ‘falta luz’, já que a cena é essencialmente escura e, como resultado, a câmera tenta clarear tudo”, afirma Paulo Cesar Pereira, professor de fotografia do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) São Paulo.
Só que a Lua já é clara, porque está recebendo luz do Sol. O resultado: ela fica branca demais e perde a textura.
Outra questão é a superdistância, já que a Lua está muito longe da Terra —em média, 384 mil km.
A distância equivale a 25 mil maratonas completas de São Silvestre (15 km) ou 550 mil desfiles nos 700 metros da Passarela do Samba da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro.
Ainda não conseguiu imaginar? Um carro de Fórmula 1 precisaria manter constante o recorde de velocidade mundial (372.6 km/h, segundo o “Guinness”) por mais de 40 dias para chegar até lá.
Como ela está tão longe, qualquer movimento mínimo dela ou da Terra afetam a foto. E devemos lembrar que ela orbita a Terra a mais de 3.500 km/h.
“A Lua pode se mover enquanto você tira a sua foto”, diz Radfahrer.
É por isso que telescópios usam motores que os movimentam lentamente com o tempo, acompanhando o objeto observado.
“Pensando assim, fotografar a Lua é simples. Já para clicar uma constelação, é preciso parar a câmera por horas”, explica ele.
Outro aspecto importante é que a distância entre a Terra e a Lua é variável, devido principalmente à trajetória elíptica do satélite. A chamada Superlua ocorre justamente quando ela está mais próxima do nosso planeta.
Reunimos, então, algumas dicas para tirar essa sonhada foto:
- Optar pelo modo manual e aumentar o valor ISO. Cuidado: valores muito alto deixam a imagem granulada, o que é chamado de ruído.
- Diminuir a velocidade do obturador para deixá-lo aberto por mais tempo. Cuidado: velocidades muito baixas são mais afetadas pela movimentação da câmera, da Terra e da Lua.
- Incluir outros elementos na foto, como prédios, árvores ou estátuas, pode orientar os olhos e destacar a proporção da Lua. Eles vão servir de referência para mostrar a grandeza do satélite.
- Usar um tripé para evitar que a imagem saia tremida.
- Quanto ao equipamento, o essencial é que tenha um sistema óptico de qualidade e a possibilidade de controlar a exposição.
- Para quem quiser investir, a sugestão são câmeras 35 mm semiprofissionais e profissionais. Elas têm sistema de foco mais preciso e controle de exposição mais flexível e rápido de configurar. “E o principal: um sensor eletrônico muito maior do que câmeras compactas e smartphones, permitindo trabalhar com índices de ruído muito menores”, diz Baptista.