Piloto russo acumula atritos e se consolida como barbeiro na lanterna da F1

No GP do México, o piloto russo Nikita Dmitryevich Mazepin, da equipe Haas, não surpreendeu ninguém ao terminar a prova em último lugar. Após a corrida, ele foi expulso de uma boate em uma festa. Confusões também não têm sido incomum em seu primeiro ano como piloto de F1.

Aos 22 anos, Mazepin, nascido em Moscou, coleciona maus resultados e problemas com os demais pilotos, além de desentendimentos com o próprio companheiro de equipe, o alemão Mick Schumacher. São constantes também as broncas dos rivais por suas atitudes consideradas antidesportivas na pista.

Antes mesmo da estreia na temporada, foi alvo de uma campanha nas redes sociais para que tivesse seu contrato com a Haas rescindido. Pouco mais de uma semana depois de ser apresentado pela equipe em dezembro de 2020, Mazepin apareceu em um vídeo, publicado nas redes sociais, tentando acariciar os seios de uma mulher sem o consentimento dela.

O piloto pediu desculpas, e a Haas disse que o assunto foi tratado internamente.

Há quem ressalte as qualidades do russo, como o vice-campeonato da GP3 em 2018. Outros se perguntam: como é possível dar as chaves do carro para Mazepin?

A sua melhor colocação até a última etapa, a do México, no último domingo (7), foi o 14º lugar no GP do Azerbaijão, em uma corrida atípica na qual o heptacampeão Lewis Hamilton terminou em último após não conseguir fazer uma curva –e outros quatro pilotos não concluíram a prova.

O próprio site da F1, no perfil em que descreve o russo, evidenciou os motivos pela permanência de Mazepin na principal categoria do automobilismo.

“Nikita Mazepin pode estar trazendo uma boa parte do orçamento com ele para a equipe Haas, mas não se iluda pensando que ele não tem a capacidade de dirigir”, diz o trecho.

O pai do piloto, Dimitry Mazepin, bilionário proprietário de uma empresa de fertilizantes, a Uralkali, é o principal patrocinador da norte-americana Haas.

Com o dinheiro da família russa, a Haas pintou seu carro VF-21 com as cores da bandeira da Rússia. O modelo é branco com letras e faixas nas cores azul e vermelha, além de apresentar a inscrição da Uralkali nas laterais e na traseira.

Em um campeonato com 20 pilotos, Mazepin ocupa a 21ª posição na classificação geral e sem nenhum ponto somado. Isso só foi possível porque o polonês Robert Kubica teve que assumir em duas ocasiões o carro do seu colega de equipe, o finlandês Kimi Raikkonen, da Alfa Romeo, e caminhou para um desfecho melhor que o russo.

Raikkonen ficou fora dos GPs da Holanda e de Monza, na Itália, por ter contraído o coronavírus. Kubica acabou com o 14º lugar no circuito de Zandvoort, na Holanda, e em 15º na etapa italiana. Mazepin não conseguiu concluir as duas provas.

Somente os dez primeiros em cada corrida contabilizam pontos para a classificação geral. No GP de São Paulo, que acontece no próximo domingo (14), o holandês Max Verstappen, da Red Bull, que soma 312,5 pontos, defenderá a liderança diante das investidas do inglês Lewis Hamilton, segundo colocado com 293,5 pontos.

Na pista de Zandvoort, Nikita Mazepin teve problemas hidráulicos em seu carro, mas seus gestos repercutiram por alguns dias. Foi um final de semana repleto de dor de cabeça para a cúpula da Haas por conta dos atritos entre Mazepin e o seu colega Schumacher.

Ambos se desentenderam desde o treino classificatório, no sábado (dia 4 de setembro). Logo nas primeiras voltas no circuito, Mazepin prensou Schumacher contra o muro, danificando a asa dianteira do carro do colega, filho do heptacampeão Michael Schumacher.

“Ele estragou minha corrida”, reclamou o alemão, que, depois de uma parada para reparos no carro, não conseguiu mais que o último lugar na Holanda. “Acho que nem sou o primeiro com quem ele faz isso. Ele tem essa coisa de querer estar a qualquer custo na minha frente.”

Gunther Steiner, chefe da Haas, logo minimizou o conflito. “É um lance difícil. Eu não acho que podemos culpar muito o Nikita, mas é claro que precisamos trabalhar e ter uma conversa privada.”

Já o ex-piloto Ralf Schumacher, tio de Mick e ex-piloto de F1, cobrou atitudes de Steiner.

“Ações como essa trazem riscos à vida. Com atitudes assim, Nikita não tem espaço, ele parece oprimido e frustrado”, disse Ralfa, cujo apelo foi feito em vão. “Steiner precisa intervir. Mesmo que o dinheiro seja necessário, isso não pode ser o preço de colocar sua equipe em risco.”

O russo retrucou, com ironia. “Se a família dele precisa de proteção na F1, fico mais do que feliz.”

Apesar de ainda estar em início de carreira, o histórico de incidentes é extenso, o que tem feito outros pilotos e ex-corredores criticarem as atitudes de Mazepin.

Em abril, no treino classificatório no GP da Emília-Romagna, na Itália, o piloto da Haas desrespeitou um fair play da categoria, rompendo um distanciamento mínimo entre dois carros durante as voltas rápidas. Mazepin ultrapassou Antonio Giovinazzi, da Alfa Romeo, que tentava melhorar o seu tempo. O italiano chamou o rival de estúpido.

No mês seguinte, no GP de Portugal, foi o canadense Nicholas Latifi, da Williams, quem o xingou, dessa vez de idiota e burro, no qualificatório.

O russo também sofreu penalidade de cinco segundos adicionais em seu tempo final por ignorar a bandeira azul, e em vez de dar passagem ao mexicano Sergio Perez, da Red Bull, tentou pressioná-lo. Os dois por pouco não bateram, e Perez disparou, pelo rádio, “maldito, imbecil”.

Mazepin também foi punido com 30 segundos, no GP da Áustria, por menosprezar o aviso da bandeira amarela dupla, uma indicação para os pilotos de que há perigo na pista e é necessário reduzir a velocidade no trecho.

Entre os atritos mais recentes, no GP da Turquia, o piloto da Haas –naquela altura retardatário– fechou Hamilton, que havia largado da 11ª posição, punido com a perda de dez pontos em razão de uma troca no motor.

O piloto da Mercedes fazia prova de recuperação e, com uma volta à frente do russo, quase colidiu ao tentar ultrapassá-lo. Dessa vez, Mazepin admitiu dificuldades com as condições da pista molhada e pediu desculpas a Hamilton.

“Quando você tem tantos carros dando uma volta em você, e mais de uma vez, acaba sendo um desastre. Fico feliz por não ter me envolvido em problemas”, falou o russo, em raro aceno diplomático.


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