Isla de Lesbos, Grecia, 5 dez 2021 (AFP) – O papa Francisco denunciou, neste domingo (5), o “naufrágio da civilização” que abandona os migrantes, em seu discurso no acampamento de refugiados da ilha grega de Lesbos, onde foi calorosamente recebido por numerosas famílias.
O segundo dia da viagem do pontífice à Grécia foi marcado pela visita ao campo de Mavrovouni, que ainda abriga cerca de 2.200 requerentes de asilo em condições difíceis.
No local, durante um discurso emotivo, Francisco fez um apelo para enfrentar o “naufrágio da civilização”, cinco anos após sua primeira visita a esta ilha grega em meio à crise migratória.
O Mediterrâneo “está se tornando um cemitério frio sem lápides […] eu imploro, vamos parar este naufrágio da civilização!”, declarou ao ser recebido por vários refugiados que se reuniram entre os contêineres e tendas.
O pontífice argentino cumprimentou longamente e abençoou as famílias presentes, incluindo muitas crianças. “Bem-vindo!”, “nós te amamos”, disseram a ele.
Francisco abraçou uma criança e se dirigiu a um grupo de refugiados. “Estou tentando ajudá-los”, disse ele.
Então, sob uma tenda, o papa, visivelmente comovido, ouviu as canções alegres de um grupo de exilados e lamentou que o Mediterrâneo, “berço de tantas civilizações”, seja hoje “como um espelho da morte”.
– “Mare mortuum” -“Não permitamos que o ‘mare nostrum’ se transforme num desolado ‘mare mortuum’ (…), não deixemos que este mar de memórias se transforme no mar do esquecimento”, exortou na presença de vários líderes religiosos, da presidente grega, Katerina Sakellaropoulou, do vice-presidente europeu, Margaritis Schinas, e do ministro grego das Migrações, Notis Mitarachi.
Cerca de 40 requerentes de asilo, a maioria católicos de Camarões e da República Democrática do Congo (RDC), assistiram ao Angelus dominical e estiveram presentes no discurso proferido pelo papa sob uma tenda.
Christian Tango, um congolês de 31 anos, falou com o papa, a quem agradeceu por seu “espírito de humanidade” perante as “crianças migrantes e refugiadas” e pediu que reze para que consigam “um lugar seguro na Europa”.
Mavrovouni é uma estrutura construída às pressas em um antigo campo de tiro do exército após o incêndio no acampamento de Moria, em setembro de 2020. Este acampamento insalubre era o maior da Europa.
– Líder espiritual -“Esta visita é uma bênção. O papa é o nosso líder espiritual”, disse neste domingo à AFP a congolesa Roseta Leo, enquanto aguardava a chegada do pontífice.
Sua compatriota Orphée Madouda, comemorou: “é a primeira vez que vou ver o papa”, mas depois lamentou: “Nós refugiados somos seres humanos e devemos ser tratados como tal e não como prisioneiros”.
Em 2016, a ilha de Lesbos tornou-se a principal porta de entrada para milhares de migrantes que tentavam chegar à Europa. “Somos todos migrantes”, disse Francisco quando visitou o campo de Moria em abril daquele ano.
Alguns refugiados agora esperam voltar com ele para Roma, como aconteceu em 2016. Naquele ano, ele voltou com 12 refugiados sírios. Desta vez, 50 migrantes serão transferidos do Chipre, onde esteve na quinta e sexta-feira.
De fato, em Atenas, a possibilidade de que alguns dos requerentes de asilo de Mavrovouni possam acompanhar o papa de Lesbos à Itália não foi descartada.
Três acampamentos do tipo já foram abertos nas ilhas de Samos, Leros e Cos, e outros em Lesbos e Chios estão previstos para o próximo ano. Eles são cercados por arame farpado e fechados com portas de raios-X.
A visita do papa a Lesbos, mais curta do que em 2016, será seguida no domingo em Atenas por uma missa para cerca de 2.500 fiéis.
– Os refugiados, a pedra angular -Tema principal de seu pontificado, a causa dos refugiados continua sendo a pedra angular da 35ª viagem do papa.
O pontífice argentino “está convencido de que a questão dos migrantes é a maior catástrofe humanitária após a Segunda Guerra Mundial”, segundo o escritor italiano Marco Politi, especialista em notícias do Vaticano.
Jorge Bergoglio, que vem de uma família de migrantes italianos radicados na Argentina, tem defendido constantemente o acolhimento de milhares de “irmãos e irmãs”, independentemente de sua religião ou condição de refugiado.
Em Atenas, no sábado, criticou perante os dirigentes gregos “a comunidade europeia, dilacerada pelo egoísmo nacionalista”, que “às vezes parece bloqueada e descoordenada, em vez de ser um motor de solidariedade”.
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