Pacto Global: Governo deve garantir apoio para que empresas consigam inovar

O papel do Estado como incentivador e fomentador financeiro para o avanço das áreas de pesquisa científicas e tecnológicas promovidas pelo setor empresarial é fundamental, segundo o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação). Para a pasta, a inovação é uma atividade de riscos e o Estado tem que entrar nisso dando apoio e subsídios econômicos para estimular o crescimento do país nesses setores.

“Quanto mais inicial [o processo de inovação], maior é o risco [para empresários]. Nesses casos é muito importante o Estado entrar e apoiar, porque ao fazermos isso é que a gente garante a inovação no país”, afirmou Marcos de Oliveira, diretor de empreendedorismo e inovação do MCTI, nesta terça-feira (23), durante primeiro dia do evento “Ciência, Tecnologia e Inovação para Agenda 2030”.

Ao longo da manhã de hoje, líderes de setores empresariais, especialistas da academia, governo, organismos internacionais e sociedade civil se juntaram para discutir objetivos concretos da Agenda 2030, compromisso global promovido pela ONU (Organização das Nações Unidas) assumido por 193 países — incluindo o Brasil.

O evento, transmitido por Tilt, é idealizado pelo Pacto Global, iniciativa da própria ONU para fortalecer políticas de responsabilidade social entre empresários. As discussões focaram em como as áreas CTI (Ciência, Tecnologia e Inovação) podem contribuir para o futuro do Brasil. O painéis de debate continuarão nesta quarta-feira (24), a partir das 9h (horário de Brasília).

De que forma o Estado deve apoiar empresários?

Segundo Oliveira, um dos caminhos para que o setor empresarial receba o apoio do Governo é fortalecer estratégias de fomento para startups através da Embrapi (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação), uma espécie de incubadora de projetos que financia com dinheiro público 30% das pesquisas aprovadas.

Em oito anos, foram mais de 1,3 mil iniciativas credenciadas, destacou. A vantagem desse formato de base financeira para os empresários, de acordo com diretor de empreendedorismo, é a Embrapi adota o formato de financiamento a fundo perdido, ou seja, o projeto não precisa pagar ou devolver pelo recurso recebido.

Além disso, são ofertadas bolsas para pesquisadores que atuam na inovação dentro de empresas em iniciativas com benefício coletivo.

“A startups têm contribuído muito nesse processo de inovação porque possuem uma agilidade que muitas vezes são oriundas das universidades e conseguem atender a demanda tecnológica de grandes empresas. Precisamos fomentar essas startups. Isso é um exemplo para estimular a inovação na ponta”, ressaltou.

Investir em centros de tecnologia pelo Brasil

As regiões Sudeste e Sul do Brasil ainda concentram a grande parte da produção científica e tecnológica do Brasil — como USP (Universidade de São Paulo), mas é preciso que outras regiões também tenham bases fortalecidas para manter o avanço do país.

Sobre isso, o MCTI informou, durante o evento, que planeja investir no processo de descentralização desses polos de tecnologia para outras regiões brasileiras. Uma das ações adotadas para isso é a destinação de 30% dos recursos (ainda que escassos diante da crise no corte de verbas para a ciência para centros das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste — o diretor de empreendedorismo não detalhou valores.

O caso da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), da Paraíba, foi tratado como exemplo de como a região Nordeste pode ter vários polos de tecnologia. A instituição virou a maior inventora do país.

Para Oliveira, o exemplo da UFCG mostra que existe a possibilidade de rompimento nesse concentração de conhecimento científico. E que isso será positivo para o Brasil.

“A próxima fronteira é na região Norte porque temos todo o potencial da biotecnologia e isso está no nosso radar”, comentou.

Qual o mercado da inovação do futuro?

O avanço da inovação afeta diretamente no mercado de trabalho em um futuro próximo ou em longo prazo. Isso implica em uso de mão de obra cada vez mais baseada na diversidade de gênero, raça, faixa de idade e classe.

O superintendente de Inovação e Tecnologia da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Jefferson Gomes, acredita que empresas cada vez mais diversificadas será uma das principais características do mercado de trabalho.

“Não consigo imaginar uma formação somente técnica sem considerar os aspectos de diversidade. É impossível porque toda a nossa construção industrial está baseada na demanda e não mais na oferta. Ou seja, com a amplitude da conectividade, direcionamos a produção para a demanda customizada”, destacou durante um dos painéis.

O engenheiro Henrique Malvar, pesquisador sênior da Microsoft e colunista de Tilt, também destacou que um caminho para o avanço do Brasil está ligado ao uso cada vez mais comum da IA (Inteligência Artificial) por empresas, como já ocorre na empresa norte-americana.

“Um pilar muito importante para a Microsoft é a inteligência artificial. Ela está entrando em tudo. Se olhar para gente, todos os nossos sistemas e aplicativos usam a IA. Alguns menos, outros mais, porém não é possível hoje em dia desenvolver um software competitivo sem IA”, concluiu.

Amanhã tem mais

O segundo dia do evento que debate sobre ciência, inovação e tecnologia abordará iniciativas para sustentabilidade e novos negócios. Além do Pacto Global, os painéis são promovidos por:

  • CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe)
  • PRME Chapter Brazil, também da ONU para para estimular a contribuição de instituições de ensino na temática do desenvolvimento sustentável
  • ABDE (Associação Brasileira de Desenvolvimento)
  • CNI (Confederação Nacional da Indústria)
  • MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação)

Confira a programação desta quarta-feira (24):

Painel 4 – Desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade
Hora: 9h até 10h30

O foco do encontro online será responder a perguntas como: Qual é o papel da inovação em um futuro sustentável no Brasil? Quais são os desafios e as oportunidades que o setor produtivo enfrenta para acelerar a inovação e o desenvolvimento sustentável? Na sessão, serão discutidas perspectivas sobre os caminhos rumo à inovação para a sustentabilidade.

  • Márcia Abrahão, reitora da UNB (Universidade de Brasília).
  • Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho de Administração do Grupo Ultra e empresário-líder da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) da CNI.
  • Sergio Suchodolski, diretor-presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE).
  • Thiago Barral, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
  • Mediador: André Godoy, diretor de Administração da FINEP e Diretor da ABDE.

Painel 5: Inovação e novos negócios para impacto positivo
Hora: 10h30 até 12h

Com amplas capacidades produtivas, tecnológicas e intelectuais instaladas, o Brasil é um país que reúne condições importantes para desenvolver inovações e novos negócios com impacto ambiental e social positivo. Quais são as áreas estratégicas para inovação e negócios de impacto no Brasil, e o que tem sido feito nesse sentido?

No painel, serão abordadas experiências concretas de iniciativas inovadoras com sustentabilidade.

  • Adalberto Maluf, diretor de marketing, sustentabilidade e novos negócios da BYD Brasil e presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
  • Adriana Carvalho, presidente-executivo da Generation Brazil.
  • Bernardo Gradin, ex-presidente da Braskem e fundador presidente da GranBio.
  • Mercedes Bustamante, professora da UnB, membro da Academia Brasileira de Ciência e pesquisadora do IPCC.
  • Mediadora: Fabiana Uchinaka, jornalista e editora-chefe de Tilt , o canal de ciência e tecnologia do UOL.


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