Nuvem de maconha altera povoado na Argentina

Moradores de Colonia Libertad, a 90 km de Uruguaiana, ficaram preocupados com os efeitos no sistema respiratório e no estado de consciência provocados pela fumaça derivada da incineração de toneladas de cannabis.

Moradores de Colonia Libertad, a 90 km de Uruguaiana, ficaram preocupados com os efeitos no sistema respiratório e no estado de consciência provocados pela fumaça derivada da incineração de toneladas de cannabis.

Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires

A Justiça Federal argentina suspendeu a incineração de 21 toneladas de maconha, depois que os habitantes de Colonia Libertad sentiram os efeitos da fumaça que invadiu as casas do povoado de duas mil pessoas.

“Queremos cuidar da saúde da nossa população”, anunciou o prefeito Roberto Fracalossi, numa tentativa de levar calma aos moradores. O prefeito passou os últimos três dias dando declarações à imprensa argentina, que tentava entender o insólito episódio em que todo um povoado se viu sob o efeito de uma nuvem de maconha.

Na segunda-feira passada (29), dezenas de agentes da Polícia do Exército e da Guarda Costeira chegaram em caminhões com sete toneladas de maconha a serem incineradas no forno de uma serraria de Colonia Libertad. Esta primeira carga equivalia a um terço das 21 toneladas de maconha apreendidas em operações antidrogas pelas forças de segurança da província argentina de Corrientes, que faz fronteira com o estado brasileiro do Rio Grande do Sul. O rio Uruguai, que divide os dois países, é patrulhado, do lado argentino, pela Guarda Costeira, responsável por parte das apreensões.

“Fog” de maconha

A fumaça provocada pela queima das primeiras toneladas, depois de expelida pela chaminé do forno, desceu por ação do vento, cobrindo o povoado com uma névoa embriagante e impregnando as casas com um forte odor.

Alterados, os moradores foram à Prefeitura para reclamar. Estavam preocupados com as eventuais consequências no sistema respiratório e no estado de consciência. Enquanto lidava com os habitantes, o prefeito enviou o vice-prefeito e um assessor legal até o forno, localizado na principal rua do povoado, a dois quarteirões de uma escola e perto de um hospital.

“Não sabemos o quão nociva a queima de 20 mil quilos de droga pode ser, mas não achamos que devesse ser feita na área urbana. Queremos proteger a nossa população”, afirmou o prefeito Roberto Fracalossi.

“Nunca nos pediram autorização para destruir esta droga aqui nem nos avisaram antes para que pudéssemos tomar os cuidados necessários”, defendeu-se o vice-prefeito, Francisco Tribbia. “Não sabemos o quão tóxica essa fumaça é, mas sabemos que toda essa droga é ruim”, criticou.

Segunda dose

O assessor legal conversou com o juiz federal Gustavo del Corazón de Jesús Fresneda, responsável pela ordem de incineração da carga. Perante o risco à saúde dos habitantes, o juiz suspendeu a operação.

“Nenhum morador chegou a procurar socorro médico, mas isso alterou todos. A principal queixa foi pela fumaça que invadia todas as casas. Desconhecemos as consequências dessa fumaça para a saúde”, descreveu o prefeito Fracalossi, acrescentando que “o cheiro já dura dias”. Agora, o processo de incineração será terminado em outro lugar, mantido sob sigilo.

Os moradores ainda tiveram uma segunda dose nesta quarta-feira (1). Quando a ordem de suspensão expedida pela Justiça chegou ao povoado, já tinham sido incineradas outras seis toneladas de cannabis. A tonelada restante foi levada ao mesmo forno na tarde desta quarta-feira.


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