‘Meninas Malvadas’ é uma das comédias românticas mais conhecidas de todos os tempos – e apesar de ter chegado aos cinemas em 2004, entrou para a mesma lista de outros clássicos do gênero como ‘10 Coisas que eu Odeio em Você’ e ‘As Patricinhas de Beverly Hills’. A trama adaptada por Tina Fey para as telonas imediatamente tocou e emocionou o coração de um crescente público apaixonado pelas irreverências cinematográficas, e é relembrada até hoje pelas personagens marcantes, por frases icônicas e memoráveis, e inclusive por uma ideologia que seria seguida diversas outras vezes na contemporaneidade, originando obras como ‘A Mentira’ e ‘Quase 18′.
Em 2017, Fey, ao lado de Jeff Richmond e Nell Benjamin, uniram forças para levar a clássica narrativa aos palcos – estreando primeiro em Washington e depois migrando para uma longa temporada na Broadway, que rendeu inúmeros prêmios e que, agora, ganhou um novo filme nos cinemas. E, considerando o impacto que a história original causou e continua causando, resolvemos preparar uma breve matéria apresentando o musical ‘Mean Girls on Broadway’, que se transformou no ‘Meninas Malvadas’ (2024).
Ao invés de se basear em uma narrativa em primeira pessoa, Richmond e Benjamin se unem para fornecer uma perspectiva em um estilo biográfico que logo se desvanece em meio às múltiplas subtramas da peça. Aqui, os melhores amigos da protagonista, Janis (Barrett Wilbert Weed) e Damian (Grey Henson), assumem a posição de narradores-personagens para contar a história por trás de como uma garota vinda da África conseguiu desestruturar uma construção microcósmica e mudar tudo o que conheciam. Ou seja, eles nos apresentam à cômica história de Cady Heron (interpretada pela carismática Erika Henningsen) e suas complicadas “aventuras” na North Shore High School – e até aí, mudar os ares com os quais estávamos acostumados poderia ser uma ótima escolha para prezar pela originalidade.
Quando pensamos em ‘Meninas Malvadas’, o primeiro nome que brota em nossa mente é o da antagonista Queen-B Regina George. A cheerleader e “dona” do colégio, temida e respeitada por todos devido à sua capacidade de manipulação, é encarnada com sucesso nessa adaptação pela incrível presença de palco de Taylor Louderman, cuja semelhança a Rachel McAdams no longa original é aplaudível. Louderman e Henningsen em diversos momentos trazem uma química agradável às sequências, protagonizando tanto cenas de tensão quanto de redenção.
A chegada de Regina é impactante: a persona surge após dois telões invisíveis se abrirem, em cima de uma mesa de refeitório, ostentando sua beleza e seu charme enquanto está rodeada por suas duas minions, Gretchen (Ashley Park) e Karen (Kate Rockwell). Se Louderman consegue roubar grande parte da atenção ainda que seja ofuscada pelo excessivo capricho com a qual a história se desenrola, Park e Rockwell superam todas as expectativas e trazem solos igualmente hilários para os palcos com vozes marcantes e únicas que são facilmente reconhecidas em meio a um ensemble considerável. Gretchen tenta o tempo todo chegar aos pés de Regina e se sente culpada por deixá-la magoada, volta e meia virando-se para a plateia e rendendo-se à comicidade muito bem-vinda de “What’s Wrong with Me?”. Karen, trazendo toda a expressividade blasé e nada sutil que perpetua a imagem estereotipada de sua personagem, é propositalmente avoada e se entrega à irreverência de “Sexy” – além de trazer piadas que não tangenciam nem um pouco a canastrice.
A trilha sonora tenta seguir uma única identidade, mergulhando numa mistura extrema do drama, da comédia e da contemporaneidade; o resultado é totalmente inesperado pelas, tornando-se um misto do clássico trágico com breaks do synth-pop e do electro-house, dos crescendos de epifania ou de redenção com o rock.
E, enquanto boa parte das peças se encaixam, não podemos deixar de mencionar alguns erros graves que podem eles tentaram polir no novo filme. O maravilhoso escopo construído para os palcos logo dá espaço a um genérico desenrolar: as músicas seguem um único padrão tonal cuja proposta de mudança é praticamente inexistente; os números de dança, coreografados pelo também diretor Casey Nicholaw, não ousam sair de uma linearidade enfadonha e não funcionam como algo fluido, e sim como movimentos duros e mecânicos que são quase vergonhosos considerando que estamos assistindo a uma história adolescente e, obviamente, bem mais dinâmica que os austeros e rebuscados dramas teatrais. Esses pequenos problemas artísticos se mantêm durante os mais de 130 minutos de produção e, com a chegada do terceiro ato, se tornam cansativos o suficiente para não corroborarmos com a narrativa.