O escalador norte-americano John Gill é tido como dos maiores divulgadores da prática de boulder nos EUA e no mundo. É creditado a ele, e explicado no artigo A história e a evolução do boulder que é uma afirmação equivocada, o título de “pai do boulder“.
O American Alpine Club está realizando uma série de curtas-metragens para imortalizar figuras importantes da história da escalada norte-americana. O herói do quarto episódio é justamente John Gill. Ele não foi o primeiro praticante de boulder no mundo, mas certamente foi um dos que fizeram da modalidade uma disciplina de escalada separada e respeitada.
Quem foi John Gill?
John Gill nasceu em 16 de fevereiro de 1937 na cidade de Tuscaloosa, no estado norte-americano do Alabama. Gill cresceu morando em algumas cidades ao redor do sudeste dos EUA. Na sua adolescência se formou no colegial em Atlanta, Geórgia, em 1954.
Após terminar o segundo grau estudou na Georgia Tech de 1954 a 1956 e se formou em matemática na University of Georgia em 1958. Ele entrou na Força Aérea dos EUA como segundo-tenente e também participou de um programa especial de pós-graduação em meteorologia na Universidade de Chicago de 1958 a 1959.
John Gill foi designado para a Base Aérea de Glasgow em Montana até 1962 e deu baixa da força aérea norte-americana como capitão vários anos depois. Depois disso, Gill fez mestrado em matemática pela University of Alabama em 1964, depois trabalhou como professor de matemática na Murray State University de Kentucky até 1967.
Naquele ano, ele se matriculou em estudos de pós-graduação, desta vez para análise complexa clássica, na Colorado State University onde obteve seu Ph.D. na instituição em 1971. Gill passou os últimos anos de sua carreira acadêmica lecionando na University of Southern Colorado e se aposentou da instituição em 2000, aos 63 anos.
John Gill e a escalada em boulder
John Gill começou a escalar aos 16 anos enquanto morava no norte da Geórgia. Enquanto estava na Georgia Tech, Instituto de Tecnologia da Geórgia, ele era um membro da equipe de ginástica da faculdade e começou a praticar boulder nas paredes dos prédios do campus para treinar para a escalada.
Como ginasta, Gill foi um atleta de argolas destacado, realizando proezas como cruzadas invertidas e balanços gigantes. Já nas décadas de 1950 e 1960, Gill foi capaz de completar exercícios de escalada considerados extremamente difíceis, até mesmo para os padrões modernos, incluindo meia dúzia de flexões com um braço e múltiplas flexões com um dedo.
Embora as graduações de boulder ainda não tivessem sido popularizadas, Gill escalou em um nível extremamente alto já em meados dos anos 1950, sem a ajuda de sapatilhas de escalada ou crash pads. Gill teve sucesso em linhas de boulder hoje consideradas V8 e V9. John Gill também foi pioneiro nas primeiras vias esportivas de graduação acima de 7º grau brasileiro nos EUA, em 1958.
John Gill foi quem introduziu o uso do magnésio, largamente utilizado na ginástica olímpica, no mundo da escalada para melhorar a aderência na rocha, a partir de meados da década de 1950. Tanto o magnésio quanto os sacos de magnésio são hoje considerados por muitos como componentes cruciais em termos de equipamentos de escalada.
O norte-americano foi o primeiro a promover ativamente o boulder como uma disciplina de escalada em si (em oposição a apenas um método de treinamento para escaladas mais longas). Seu livro The Art of Bouldering (1969), publicado pela primeira vez no American Alpine Journal (revista anual publicada pelo American Alpine Club), é considerado um trabalho fundamental sobre a natureza da disciplina.
Quando Gill publicou o livro The Art of Bouldering, propôs seu próprio sistema de graduação de linhas de boulder e apresentou sua abordagem (ginástica) para a modalidade.
Foi John Gill que criou a cultura de sequência de movimentos determinados (ao invés da simples subida da rocha), um sistema de classificação da sequência, a importância do treinamento de força (ao invés de apenas técnico) e o aprimoramento de movimentos “controlados dinamicamente” (botes).
A biografia de John Gill, escrita por Pat Ament em 1977, intitulada “Gill, Master of Rock“, é um trabalho também fundamental que expõe Gill e o boulder ao público da escalada em geral que , na época da publicação, desconhecia o escalador, suas realizações, e que a modalidade já era uma atividade definida e não uma novidade.
De acordo com sua definição pessoal de boulder, Gill acredita que a disciplina consistia em “escalada de um passo que enfatiza movimentos de dificuldade muito grande”, geralmente feita perto do solo e sem corda, também contendo alguma forma de componente dinâmico.
Além de suas contribuições para o esporte, John Gill é um ávido pesquisador e compilador da história da escalada. Seu site possui grande variedade de ensaios e artigos sobre as origens do boulder, incluindo uma análise do que pode ser um dos primeiros guias de boulder do mundo, escrito por Aleister Crowley em 1898.
Formado em Engenharia Civil e Ciências da Computação, começou a escalar em 2001 e escalou no Brasil, Áustria, EUA, Espanha, Argentina e Chile. Já viajou de mochilão pelo Brasil, EUA, Áustria, República Tcheca, República Eslovaca, Hungria, Eslovênia, Itália, Argentina, Chile, Espanha, Uruguai, Paraguai, Holanda, Alemanha, México e Canadá. Realizou o Caminho de Santiago, percorrendo seus 777 km em 28 dias. Em 2018 foi o único latino-americano a cobrir a estreia da escalada nos Jogos Olímpicos da Juventude e tornou-se o primeiro cronista esportivo sobre escalada do Jornal esportivo Lance! e Rádio Poliesportiva.