A comissão eleitoral da Líbia proibiu, nesta quarta-feira (24), o filho do ditador Muammar Gaddafi de se candidatar a presidente do país. Desde a remoção de seu pai, assassinado em 2011 durante um levante popular, a Líbia passa por grave instabilidade política, e as eleições agendadas para 24 de dezembro serão fruto de um processo organizado pelas Nações Unidas para tentar pôr um fim ao impasse.
Saif al-Islam Gaddafi, 49, é um dos cerca de cem nomes inscritos até aqui como candidatos —mas, por suas raízes, é figura proeminente da lista. Além dele, outros 24 foram barrados pela comissão.
Segundo o grupo, Saif al-Islam não é elegível porque foi condenado por um crime em 2015. Na ocasião, um tribunal de Trípoli, capital do país, o condenou à morte por crimes de guerra cometidos durante o levante popular contra seu pai. O filho do ditador também é procurado pelo Tribunal Penal Internacional desde 2011.
Apesar de seu nome ser um dos mais conhecidos na Líbia e de ele ter desempenhado um papel importante na formulação de políticas antes do movimento que destituiu o regime do pai, Saif al-Islam mal foi visto por uma década.
Antes de sua última aparição, quando se registrou para a corrida presidencial no último dia 14, ele apenas havia sido visto em 2015, por meio de uma chamada de vídeo em seu julgamento, em Trípoli.
Na época, Saif al-Islam estava detido por combatentes que o capturaram enquanto ele tentava fugir do país após a queda de Gaddafi. Apesar da decisão judicial, ele nunca deixou a região montanhosa de Zintan, que fica a 136 quilômetros de Trípoli, mas fora do controle das autoridades da capital.
Posteriormente, seus captores permitiram que ele ficasse em liberdade e, em julho deste ano, o filho do ditador deu uma entrevista ao jornal americano The New York Times dizendo que não descartava uma volta à política.
Embora Saif al-Islam provavelmente jogue com a nostalgia da era anterior ao levante de 2011 que tirou seu pai do poder e deu início a uma década de caos e violência, analistas dizem que, mesmo que a Justiça reverta a decisão da comissão eleitoral, ele pode não ser um favorito.
A era de Muammar Gaddafi ainda é lembrada por muitos líbios como uma severa autocracia, e Saif al-Islam e outras figuras do antigo regime estiveram fora do poder por tanto tempo que podem ter dificuldade para mobilizar apoio.
Disputas, porém, sobre as regras eleitorais, incluindo a base legal do voto e quem deve ser elegível para concorrer, ameaçam inviabilizar o processo de paz apoiado internacionalmente.
Dois outros candidatos conhecidos, o ex-primeiro-ministro Ali Zeidan e o ex- presidente do Parlamento que sucedeu o levante, Nouri Abusahmain, também foram excluídos do pleito. Ainda cabe recurso às decisões, e a palavra final ficará para o Judiciário.
A comissão eleitoral ainda sofre ataques de políticos que acreditam que alguns nomes que não foram barrados também deveriam entrar nessa lista. Entre eles está o do militar Khalifa Haftar, que é acusado de ter nacionalidade americana, o poderia excluí-lo do pleito.
Ele também é acusado de crimes de guerra, devido a ataques à capital do país em 2019, que deixaram dezenas de mortos. Haftar é o comandante do Exército Nacional Líbio, um dos grupos que protagonizam os conflitos no país.
O líder, por sua vez, nega crimes de guerra e diz não ser cidadão americano.
O atual primeiro-ministro interino, Abdulhamid al-Dbeibah, prometeu não se candidatar à Presidência como condição para assumir seu cargo atual. Mas, segundo a rede Al Jazeera, o premiê teria mudado de ideia e no último domingo registrou seu nome no pleito.
O ato, no entanto, vai contra as leis do país, que dizem que ele teria que suspender seus deveres governamentais por pelo menos três meses antes da data da votação, o que não foi feito.
Caso a Justiça considere válida a candidatura de al-Dbeibah, ele deverá entrar na lista dos favoritos ao cargo, que ainda inclui Haftar e o ex-ministro do Interior Fathi Bashagha.