Aquela peculiaridade da personagem Dory de falar “baleiês” no filme “Procurando Nemo” não faz parte só da ficção. Um grupo interdisciplinar de cientistas desenvolve um projeto que tem como objetivo de fazer algo parecido entre humanos e os animais. O foco deles é estudar a comunicação com cachalotes, uma espécie de baleia.
O grupo de pesquisadores faz parte do projeto chamado CETI (Iniciativa Tradução de Cetáceo, na tradução direta). Eles pretendem usar IA (Inteligência Artificial) para entender a linguagem das baleias, ou seja, as “codas” — conjunto de cliques rápidos emitidos por esses mamíferos.
Os cliques dos cachalotes são ideais para a decodificação porque são fáceis de traduzir na linguagem dos computadores de uns e zeros, diferentemente dos sons contínuos de outras espécies de baleias.
Para compreender a linguagem das baleias, o grupo usará PNL (Processamento de Linguagem Natural, em tradução livre para português), um ramo da IA que analisa a fala escrita e falada — até agora, apenas a linguagem humana.
Entretanto, para isso é necessária uma grande quantidade de dados. De acordo com a Hakai Magazine, o GPT-3 (modelo de linguagem preditiva de aprendizado profundo), capaz de prever e completar uma frase palavra por palavra apenas recebendo o início dela, foi treinado com cerca de 175 bilhões de palavras.
Como vai funcionar?
A primeira tarefa do projeto CETI é coletar quatro bilhões de codas de cachalotes. Os cientistas pretendem expandir a coleção do projeto Dominica Sperm Whale Project, do biólogo Shane Gero, que registrou menos de 100 mil codas da espécie.
A próxima etapa seria usar chatbot (robô de mensagens) interativo que tenta simular o diálogo com baleias. Contudo, seria preciso entender o contexto daquelas palavras.
Por conta disso, o grupo quer anotar as gravações de voz com dados sobre o comportamento das baleias desde o começo. O obstáculo aqui é encontrar uma maneira automatizada de fazer essas milhares de anotações.
Resultado incerto
Os cientistas do Projeto CETI admitem que sua busca por significado nas codas das baleias pode não resultar em nada de interessante.
“Entendemos que um dos nossos maiores riscos é que as baleias possam ser incrivelmente enfadonhas”, diz David Gruber, biólogo marinho da City University of New York, líder do programa, à Hakai Magazine.
Porém, Gruber acredita que não é o caso, pois em suas observações de perto ele ficou impressionado com os animais.
Michael Bronstein, cientista da computação israelense, espera que essas descobertas possam mudar a forma como convivemos com a natureza como um todo.
“Se descobrirmos que existe uma civilização inteira basicamente sob nosso nariz, talvez isso resulte em alguma mudança na maneira como tratamos nosso meio ambiente. E talvez resulte em mais respeito pelo mundo vivo”, disse.
*Com informações do site Futurism