Crítica | Argylle: O Superespião

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Após a renomada trilogia “Kingsman”, o cineasta britânico Matthew Vaughn se aventura mais uma vez no mundo da espionagem em Argylle: O Superespião, onde acompanhamos Elly Conway (Bryce Dallas Howard), uma escritora que escreve romances sobre o agente secreto (Henry Cavill) que tem a missão de desvendar um sindicato global de espionagem. No entanto, quando suas histórias começam a ganhar vida no mundo real, Elly se depara em uma verdadeira confusão entre o que é ficção e realidade.

A peculiaridade da linguagem fílmica de Matthew Vaughn, desde o seu primeiro sucesso “Stardust: O Mistério da Estrela” (2007), sempre chamou atenção pela oportuna e inteligente utilização de uma naturalidade dentro dos seus próprios universos, amalgamada a uma certa estranheza e alguns recursos (humor, violência gráfica, melodramas) desavergonhadamente explícitos, tal como é visto no seu insuperável “Kick-Ass: Quebrando Tudo” (2010). Seu apreço por filmes de espionagem também marcam sua trajetória cinematográfica com os impecáveis X-Men: Primeira Classe (2011) e Kingsman: Serviço Secreto (2014), sendo estes grandes exemplos de como subverter clichês divertidos de produções deste subgênero, agregando uma linguagem moderna e repleta de personalidade, funciona a primeira vista e quando utilizada moderadamente, junto com os artifícios anteriormente mencionados. Ao ultrapassar limites e desordenar um tom narrativo que se desestabiliza com excessos, Matthew Vaughn acaba se encontrando com o massivo e o estranho que beira, não uma curioso peculiar que vemos em suas primeiras produções, mas uma cansativa mesmice, o que acontece nos dois últimos filmes da trilogia Kingsman e agora em Argylle: O Superespião.

Dua Lipa e Henry Cavill em Argylle. Imagem: Universal Pictures/Reprodução

Curiosamente, o senso de burlesco e cafona aqui nesta nova produção parecem funcionar por, de alguma forma, terem se tornado o artifício principal para o funcionamento da narrativa, já que a ideia de brincar com possibilidades de navegar por entre o que é realidade ou ficção dentro do universo vivido pela escritora Elly Conway é abandonada ao longo da trama, assim como a tentativa de criação de um mundo de ficção dentro daquele próprio. A caricatura presente nas passagens ambientadas no livro de Elly é apenas um reflexo do pastiche que o roteiro despreocupado de Jason Fuchs (Mulher-Maravilha) desenvolve para a trama principal. Há, por outro lado, uma satisfatória relação entre a escrita conturbada e o tom acelerado e frenético do filme, que consegue se sobressair em uma metragem exageradamente longa de 2 horas e 19 minutos, sem parecer cansativa, apenas exagerada e inegavelmente massiva. Sim, é possível extrair de todos os problemas da narrativa de Argylle uma diversão peculiar, nos moldes das antigas produções de Vaughn, e perceber que há um quê de criatividade presente no modo de contar a história do filme que não é uma grande novidade.

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O excesso de reviravoltas, sendo algumas surpreendentes e outras nem tanto (já que a trama passa a senha entregar ao óbvio), até são capazes de nos prender nas poltronas, por mais absurdas e milimetricamente elaboradas, dando até para destacar o mínimo cuidado que o roteiro teve ao construir a trama. Não é possível afirmar que esse mesmo tímido “tratamento minucioso” para com as reviravoltas se deu com a história dos personagens em cena. E, pasmem, como existe um excesso de personagens e grandes nomes hollywoodianos em Argylle! Claro que alguns deles foram bem aproveitados, como Bryce Dallas Howard e Sam Rockwell, que estabelecem uma ótima química além de desempenharem de forma convincente os seus respectivos papéis. Henry Cavill entrega o que pode entregar em pouco tempo de tela, já Bryan Craston está altamente caricato e pouco convence como o vilão Diretor Ritter. Nomes como Dua Lipa, John Cena, Sofia Boutella, Adriana DeBose e até Samuel L. Jackson são inseridos na trama para atraírem seus respectivos fãs para os cinemas, pois não há desenvolvimento algum de seus personagens.

Imagem: Universal Pictures/Reprodução

Não existem elogios para descrever a qualidade visual de Argylle: O Superespião, pelo fato desta simplesmente não existir. O desleixo técnico em figurino, maquiagem e efeitos visuais, que ostenta de um CGI cômico totalmente desprovido de proporções e texturas, não só prejudica a imersão do público na obra, como também reforça a ideia do próprio filme não se levar a sério. Bizarra essa escolha para ilustrar cenas de ação bem idealizadas, como a luta no trem – que até conta com uma edição interessante, que faz transições entre os movimentos dos personagens de Sam Rockwell e Henry Cavill, além de contar com uma ótima coreografia -, e a rajada de balas misturada com fumaça colorida e uma dança romântica altamente ridícula, porém que consegue arrancar boas risadas. Não pretendia falar do simpático gato Alfie digitalmente construído em algumas cenas de ação e até de interação entre o bichano e os atores, mas seria impossível escrever uma crítica de Argylle sem mencionar esse efeito desastroso.

Surpreendentemente, Argylle: O Superespião consegue subverter a maioria de seus problemas, que não são poucos, entregando uma ação de espionagem ridiculamente divertida e até com um certo gosto de “quero mais”. Longe de agradar a todos, o filme pode, pelo menos, ser digerido pelos fãs mais antigos de Matthew Vaughn.


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