A recente implementação de criptografia ponta a ponta nas mensagens diretas do Facebook – que será adicionada posteriormente no Instagram – pela Meta representa um marco significativo no setor de tecnologia. Anunciada em 2019 como uma iniciativa para aumentar a privacidade dos usuários, essa mudança, contudo, tem gerado debates acalorados sobre as implicações para a segurança infantil.
A criptografia, defendida como um direito humano fundamental por muitos, incluindo o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, visa proteger as comunicações dos usuários de olhares indiscretos, conforme explica The Wall Street Journal.
{{#values}}
{{#ap}}
{{/ap}}
{{^ap}}
{{/ap}}
{{/values}}
Leia também:
Ao anunciar o plano de criptografia, em 2019, Zuckerberg apostou que o futuro indicava para serviços nos quais as pessoas tivessem certeza de que o compartilham ficaria somente entre elas. Porém, destacou também que adotar a criptografia de ponta a ponta tem seus perigos.
“Quando bilhões de pessoas usam um serviço para se conectar, algumas delas farão uso indevido dele para coisas verdadeiramente terríveis, como exploração infantil, terrorismo e extorsão”
Mark Zuckerberg
Porém, antes de sua implementação, preocupações foram levantadas por funcionários da Meta, como David Erb, ex-diretor de engenharia do Facebook, sobre a capacidade reduzida de detectar e denunciar abuso sexual infantil nas plataformas.
Erb e sua equipe, focados na detecção de comportamento prejudicial do usuário, identificaram que o algoritmo “Pessoas que você talvez conheça” do Facebook facilitava o contato de adultos com menores para fins abusivos. A criptografia completa das mensagens, segundo Erb, limitaria significativamente a capacidade da Meta de combater esses problemas.
A decisão de avançar com a criptografia ocorreu apesar dos alertas de Erb e outros, culminando na saída dele da empresa. Enquanto isso, outros serviços de mensagens, como o WhatsApp, já possuem criptografia, mas não conectam usuários com estranhos, diferentemente do Facebook e Instagram.
A implementação da criptografia gerou um debate entre os defensores da privacidade e os preocupados com a segurança infantil. Enquanto grupos como a União Americana pelas Liberdades Civis apoiam a medida como vital para a segurança cibernética, as agências de aplicação da lei e defensores da segurança infantil alertam sobre os desafios adicionais na luta contra a exploração infantil.
O caso de Karl Quilter, que usou o Facebook para explorar sexualmente meninas nas Filipinas, ilustra como a capacidade da Meta de acessar mensagens foi crucial para a investigação e prisão de predadores. A criptografia tornará essas investigações mais desafiadoras.
Outros serviços de redes sociais, como TikTok e YouTube, tomaram medidas diferentes para proteger os usuários jovens, incluindo a desativação de mensagens privadas ou a remoção do recurso de mensagem.
A decisão da Meta de implementar a criptografia ponta a ponta em suas plataformas representa um ponto crítico na interseção entre privacidade e segurança. Enquanto a medida é aplaudida por proporcionar maior segurança nas comunicações dos usuários, ela também levanta questões significativas sobre a capacidade de proteger menores de abusos online.
Paralelamente, a Meta construiu uma ferramenta interna conhecida como MACSA (“Malicious Child Safety Actor”, algo como “Ator Malicioso à Segurança Infantil” em português), que analisa atualmente cerca de 60 sinais diferentes para restringir ou desativar a conta de um predador. Apesar de elogiarem o algoritmo do MACSA, funcionários atuais e antigos da Meta afiram que ele não substitui a capacidade investigativa que a criptografia impediria.
A discussão em torno dessa implementação destaca a necessidade de um equilíbrio entre privacidade e segurança, particularmente em plataformas que conectam milhões de usuários ao redor do mundo.