Como buracos negros ‘de laboratório’ mudariam tudo na ciência

Recriar buracos negros em laboratório mudaria tudo na ciência. Responderia questões sobre gravidade e mecânica quântica. Seria prova empírica da existência de outras dimensões além das que percebemos. E a façanha é possível, segundo artigo escrito por Óscar del Barco Novillo, professor associado no departamento de Física da Universidade de Múrcia (Espanha), publicado no The Conversation.

Para quem tem pressa:

  • O professor Óscar del Barco Novillo, da Universidade de Múrcia (Espanha), escreveu sobre a possibilidade teórica de recriar buracos negros em laboratório;
  • Segundo ele, a façanha revolucionaria o entendimento sobre gravidade e mecânica quântica. Também provaria a existência de dimensões além das conhecidas;
  • Novillo aponta o Grande Colisor de Hádrons (LHC) do CERN como a máquina capaz de simular, e “teoricamente” criar, microburacos negros a partir de colisões de partículas subatômicas;
  • Ainda de acordo com o professor, qualquer microburaco negro potencialmente criado pelo LHC seria menor que um átomo de hidrogênio e se desintegraria quase instantaneamente;
  • Em relação às controvérsias e previsões apocalípticas sobre o experimento, o professor escreve que a criação de buracos negros ofereceria insights valiosos sobre o Universo sem representar riscos para a humanidade.

Para o professor, a máquina “teoricamente capaz” de criar buracos negros é o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern) – o maior e mais potente acelerador de partículas existente. “O Cern realiza simulações de buracos negros, mas com base em colisões entre partículas subatômicas que poderiam gerar um microburaco negro ‘real’.”

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Buraco negro em laboratório (?)

Imagem de buraco negro visto de perto
(Imagem: Merlin74/Shutterstock)

O professor explica, no artigo, que “simulações de buracos negros em laboratório” geralmente recriam, por meio de sistemas físicos conhecidos, alguma característica de um buraco negro. “Em outras palavras, eles simulam uma qualidade específica do buraco negro (o que é muito útil em termos experimentais), mas não são buracos negros propriamente ditos”, escreve Novillo.

Quando o LHC começou a funcionar, uma suposta falta de segurança dos testes a serem realizados gerou controvérsia. Os principais argumentos apontavam que o colisor poderia criar microburacos negros capazes de crescer às custas da massa do nosso planeta.

Apesar de escrever que a criação de buracos negros no LHC seja teoricamente possível, o professor acrescenta: a possibilidade é muito remota. “Seriam buracos negros muito pequenos (microburacos negros), menores do que o tamanho de um átomo de hidrogênio (em oposição aos supermaciços com milhões de massas solares).”

Assim, o colisor não geraria buracos negros no sentido cosmológico – objeto astronômico com atração gravitacional tão intensa que nem a luz escapa – segundo Novillo. Mas, ainda de acordo com o professor, algumas teorias sugerem ser possível formar pequenos buracos negros “quânticos” a partir da colisão de partículas altamente energéticas. “O que de fato ocorre no Cern são simulações computacionais desses buracos negros.”

Perigos para a humanidade (?)

Planeta Terra visto do espaço
(Imagem: buradaki/Shutterstock)

Segundo o professor, os microburacos negros criados no Cern teriam massas de cerca de 0,00001 grama, seriam trilhões de vezes menores que um próton e se desintegrariam de maneira praticamente instantânea. “A observação experimental de tal evento seria empolgante em termos de nossa compreensão do Universo, e seria perfeitamente segura.”

Em 2015, Fabiola Gianotti, na época diretora geral do Cern, chamou os buracos negros quânticos de “inofensivos e inocentes”. De acordo com Novillo, se as colisões no LHC produzissem microburacos negros, eles dificilmente interagiriam com outras partículas. Além disso, sua massa não aumentaria, segundo ele.

Se em algum momento formos capazes de gerar um microburaco negro, o mundo não será destruído, mas teremos que nos sentar e respirar fundo.

Óscar del Barco Novillo, professor associado no departamento de Física da Universidade de Murcia (Espanha), em artigo publicado no The Conversation


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