Brasileiros elogiam velocidade da internet 5G no exterior, mas ainda não viram a esperada 'revolução'

O leilão da internet 5G, que aconteceu na última quinta (4) e na sexta (5), abriu caminho para a nova tecnologia chegar de vez ao Brasil. Ela já é uma realidade em alguns países, mas ainda levará um tempo para que as operadoras instalem a infraestrutura necessária para que nova banda larga funcione aqui.

Com a conexão ultrarrápida, a previsão é de muitas novidades: carros que podem dirigir sozinhos, cirurgias feitas à distância e uma infinidade de dispositivos ligados à internet ao mesmo tempo.

Brasileiros que vivem em Japão, Estados Unidos e Suíça contaram ao g1 como é poder usar o 5G no dia a dia. Para eles, o que chama mais atenção é a grande velocidade da internet, mas a esperada “revolução” ainda não aconteceu.

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Aumenta ‘vício’ e pega até no Alasca

A arquiteta Camila Delvaz, de 35 anos, mora em Nova York e usa o 5G desde novembro passado. Ela aprova a nova tecnologia e diz que consegue ver filmes e seriados na qualidade máxima sem precisar se conectar ao wi-fi.

“O negativo é aumentar o vício em se manter conectada”, diz. Em viagens nos Estados Unidos, ela já passou por Utah, Arizona, Nevada e até o remoto estado do Alasca.

“Eu fiquei impressionada, para ser sincera, que pegou em muito mais lugares do que eu imaginava”, afirma Camila.

A arquiteta Camila Delvaz usou 5G até no Alasca — Foto: Arquivo pessoal / Camila Delvaz

Ela comenta que o sinal tem alguns “buracos” em regiões mais desabitadas, mas não é algo exclusivo do 5G. “Não pegava em todos os lugares, mas não apenas o 5G. Isso acontece em regiões onde o celular não funciona”, explica.

Vivendo em uma rotina de viagens entre Nova York e Miami, o economista e diretor de RH Daniel Rodrigues Ribeiro, de 34 anos, começou a usar a tecnologia neste ano, e ainda sente falhas.

“Ele [o 5G] é mais rápido, quando pega. Ainda é uma tecnologia muito nova, e a cobertura não é tão boa como a do 4G, que já está em todos os lugares”, conta o brasileiro.

O economista e diretor de RH, Daniel Rodrigues Ribeiro, de 34 anos, diz que 5G é bem rápido — Foto: Arquivo Pessoal / Daniel Ribeiro

Restrito a grandes cidades no Japão

A falta de uma cobertura em toda a área de um país não é exclusividade dos EUA. Brasileiros que vivem no Japão relatam que por lá a tecnologia ainda tem foco nas grandes cidades.

“Quando estou trocando de região, para uma em que não funciona 5G, a internet dá uma falhada quando volta para o 4G”, conta a influencer Isabella Borrego, de 24 anos. Ela vive em Kanagawa, na região metropolitana de Tóquio.

Influencer Isabella Borrego, de 24 anos, diz que sinal pode falhar quando muda para o 4G — Foto: Arquivo pessoal / Isabella Borrego

Em Oizumi, na província de Gunma, a 70 km da capital japonesa, a quinta geração de banda larga móvel ainda não chegou, conta a também influencer Aline Duarte, de 26 anos.

Ao contrário dos EUA, onde os preços se mantiveram os mesmos, segundo os entrevistados, no Japão houve algum aumento de valor para usar o 5G.

“Mudou coisa de mil e pouco ienes [mais de R$ 50] para ter o chip com 5G”, diz Aline.

A influencer Aline Duarte, de 26 anos, não consegue usar o 5G em cidade a 70 km de Tóquio — Foto: Arquivo pessoal / Aline Duarte

Mas faz tanta diferença assim?

O cinegrafista Fábio Rogério Saheki, de 37 anos, morou no Japão por 20 anos e acaba de voltar ao Brasil. Ele acompanhou as evoluções tecnológicas do país asiático nas últimas décadas, inclusive a chegada do 5G.

“Eu não senti muita diferença. Particularmente, o que senti é que vídeos do YouTube abriam mais rápido. Mas, realmente, não senti uma diferença grande, nada absurdo”, comenta. “Para outras pessoas, que fazem um tipo de uso mais intenso de dados, pode ser que dê uma diferença”.

O cinegrafista Fábio Rogério Saheki, de 37 anos, morou no Japão por 20 anos, e viu chegada do 5G — Foto: Arquivo pessoal / Fábio Saheki

Um dos primeiros efeitos para quem usa o 5G é chamada baixa latência da rede. É aquele tempo mínimo de resposta entre um aparelho e os servidores de internet – o “delay” que acontece em ligações em vídeo, quando é preciso esperar uns segundos até que a pessoa do outro lado veja e ouça o que falamos.

Para o economista Daniel Ribeiro, que vive nos EUA, a tecnologia tem ajuda bastante no dia-dia. “Os vídeos são mais rápidos. Usamos muito Zoom e Teams. Nessas videoconferências, a ligação fica com maior qualidade”, diz Daniel.

Mesmo que o 5G seja muito potente e prometa velocidades maiores — de até 100 vezes em relação ao 4G —, a tendência é que a rede móvel sirva como um complemento ao wi-fi.

O gestor de desenvolvimento de produtos Fernando Souza, que vive em Lucerna, na Suíça, tem “desapegado” de encontrar as redes de internet fixa.

“Como positivo é não precisar de wi-fi para nada, nem mesmo para trabalho remoto onde quer que você esteja, como num café ou num parque”, comenta Fernando.

Ele não teve que trocar de aparelho para usar o 5G por já ter uma modelo acessível à conexão, mas a maior parte dos entrevistados precisou comprar novo smartphone compatível com a tecnologia (veja modelos que comportam o 5G à venda no Brasil).

Fernando Souza, gestor de desenvolvimento de produtos, que vive em Lucerna, na Suíça, tem usado 5G no lugar do Wi-FI — Foto: Arquivo pessoal / Fernando Souza

Uma transição para o ‘5G puro’

A maioria dos locais em que a conexão 5G está disponível utiliza o padrão DSS (Compartilhamento Dinâmico de Espectro, da sigla em inglês), que oferece maiores velocidades, mas utiliza a infraestrutura existente do 4G. É o caso de algumas cidades brasileiras, por exemplo.

O 5G DSS não chega a entregar o potencial máximo do 5G, que só é atingido com a instalação de uma infraestrutura para o 5G SA (standalone, ou autossuficiente, na tradução para o português).

Isso explica o porquê de muitos avanços prometidos pela nova geração de banda larga ainda estarem “engatinhando”. A Opensignal, empresa que analisa a qualidade das conexões de internet, disse ao g1 que a maioria das redes 5G SA estão na China e que há um investimento intenso da tecnologia nos Estados Unidos pela operadora T-Mobile.

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