Bernardo Barreto está na Califórnia para acompanhar o 39º Festival de Cinema Internacional de Santa Bárbara. O artista está concorrendo à categoria de Competição Norte-Americana pelo filme Invisíveis, com exibições nos dias 15 e 16 de fevereiro. Em entrevista exclusiva ao ESTRELANDO, o ator contou detalhes sobre o longa-metragem, que é uma coprodução entre Brasil e Estados Unidos com cenas filmadas em Nova York – além de direção de Heitor Dhalia e participação de Andréa Beltrão.
Bernardo começa destacando que passou por uma jornada até o filme chegar às telonas.
– Foi uma construção. Não aconteceu do dia para noite. O filme começa uns seis sete anos atrás. Teve todo um processo de uma caminhada para chegar e iniciar esse processo de festival. Tiveram os festivais do Rio de Janeiro e São Paulo, que foram um ponto de partida muito interessante para o filme, que eu vi uma resposta do público brasileiro.
Em seguida, explica a proposta da produção e como está sendo entregar este trabalho ao público norte-americano.
– A gente tem uma condução entre Brasil e Estados Unidos. Agora nos Estados Unidos vamos ver qual é a reação do público americano, uma visão sobre um filme que aborda o ponto de vista de um personagem de um imigrante que quer ser americano. Tem esse arco do personagem. Ele começa com esse desejo de ser integrado em uma sociedade que muitas vezes exclui você de pertencer. Principalmente quando você é latino, porque eu acho que o latino ainda não encontrou essa força dentro dos Estados Unidos.
Para ele, os brasileiros conseguiram se identificar muito com a parte emocional da narrativa.
– O que os brasileiros falaram para mim é que se identificaram muito com o personagem, com a jornada. Eu acho que a gente se enxerga, como a gente é visto no mundo, as nossas dificuldades. Às vezes quando a gente também quer a nossa relação com o nosso país e também com a nossa criança, né? O filme fala um pouco do país como uma pátria e tem a coisa da paternidade. Então acho que no Brasil teve uma identificação muito forte com a parte emocional assim do filme e eu acho que nos Estados Unidos talvez vamos ver tem um impacto político também mais profundo.
Por ser um filme de produção independente, Bernardo acabou passando por algumas dificuldades, como falta de orçamento, pandemia e poucos dias de filmagem. Porém, o ator se sente orgulho do produto final, que está recebendo carinho do público. Um ponto que o deixa emocionado é que teve a oportunidade de trabalhar com Andréa Beltrão, atriz de quem sempre admirou a carreira.
– Admiro ela há muito tempo. Ela chegou nos Estados Unidos e conheci ela no set. Eu já tinha sentado ao lado dela no teatro em Nova York uma vez, quando a gente foi assistir a uma peça, mas eu não tive coragem de falar. Sabe? Aquela coisa meio fã. Eu e o Heitor fomos atrás dela e ela topou esse desafio. Eu amei e eu não quis ficar intimidado pela presença dela no set. Ela é uma pessoa maravilhosa, me deixou super à vontade e eram cenas difíceis.
Ele ainda relembra o momento em que assistiram ao longa juntos pela primeira vez.
– No palco do Rio, fiz uma declaração de amor de fã para ela. Eu assistindo filme pela primeira vez ali na plateia e ela tava sentada atrás de mim. Eu tava muito tenso, tava muito nervoso e ela passava a mão e fazia um carinho assim durante o filme e foi muito especial. Foi uma coisa de mãe mesmo, falando: Cara, o filme é bom, fica tranquilo. Foi importante demais para mim. Porque a gente se expõe muito né? Eu escrevi o roteiro eu tava ali como um ator, é uma jornada que a gente sacrifica muito tempo. Nossa eu nem sei te dizer assim de escrever o quanto eu pelo menos me doei para esse filme. Então assim eu não só o reconhecimento na plateia, mas das pessoas que trabalharam com você.
Bernardo continua se derretendo pelo carinho e parceria da atriz:
– Não tinha todo o amparo que… não que ela precisa, mas que ela tem que ter. Porque ela é incrível, tem uma história. Ela faz parte da história do não só do cinema, mas do teatro nacional. Para mim foi muito forte ver o quanto ela é artista acima de tudo e tem essa simplicidade, é isso que corre na veia dela. Ela está ali pelo que eu acredito que seja assim os motivos mais profundos, ela é uma artista.
Epitáfio
Além de estar animado em colher os frutos de seu empenho em Invisíveis, Bernardo também mal pode esperar para apresentar o filme Epitáfio ao mundo. Pela primeira vez, o artista se aventurou em escrever um roteiro dos gêneros thriller e terro – apesar de não ser fã de longa-metragens que arrancam sustos.
– Esse filme é fora da curva para mim, porque ele é uma um thriller de horror, um gênero que eu não me imaginava escrevendo. Eu tenho medo de filme de terror. Eu acordei no meio da noite com uma inspiração. Escrevi cerca de 40 páginas. Foi um processo mais independente ainda, porque nem investimento financeiro a gente tinha, então a gente foi juntando coisinhas. Foi bem difícil, está sendo. A gente está na finalização e a dificuldade financeira ainda é grande, mas o resultado do filme é muito legal.
Os olhos do artista brilham enquanto ele descreve o sentimento de tentar algo novo e descobrir como pode ser divertido viver um personagem sombrio.
– Já mostrei o filme para algumas pessoas e a reação é legal. A galera curte o filme. Apesar de terror, ele é um filme sobre relacionamento entre homem e mulher. Tem essa coisa meio machista e tóxica. Essa mulher tentando desapegar desse machismo estrutural. Foi interessante olhar para dentro. Eu me diverti muito fazendo o personagem, deu muita liberdade. Esse vilão é muito maravilhoso. É um personagem que tem uma densidade, que traz um peso, mas que também ri de si mesmo.