Asteroide que será visitado em missão secreta faz parte de nova tendência da iniciativa privada

A AstroForge pretende lançar, em 2024, a primeira missão espacial privada para além da Lua. O objetivo é que ela visite um asteroide próximo à órbita da Terra e descubra seu potencial de mineração. No entanto, em direção a qual rocha espacial ela irá voar é um mistério.

A missão, nomeada como Odin, é a segunda espaçonave da AstroForge a ser enviada para o espaço. A primeira, a Brokkr-1, com pouco mais de 11 quilos, foi lançada em abril para a órbita terrestre e tinha como objetivo refinar metais no espaço. A Odin, no entanto, ultrapassa os 100 quilos.



  • A espaçonave será lançada de carona em uma missão robótica da Intuitive Machines, em direção a Lua, lançada a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9;
  • Durante a viagem a Lua, a espaçonave Odin será liberada no espaço e seguirá seu destino até o asteroide misterioso;
  • De acordo com a AtroFarge, depois de um ano de viagem, a espaçonave passará pelo asteroide para tirar fotos e procurar evidências de metal.

O alvo da missão é um asteroide do tipo M. Acredita-se que essas rochas espaciais sejam restos de núcleos de planetas que falharam durante sua formação e por causa disso são ricas em metais valiosos. Caso tudo dê certo, a AstroForge será a primeira a visitar um asteroide do tipo.

A NASA até chegou a enviar uma sonda para um asteroide do tipo M em outubro, a Psyche. No entanto, a previsão de chegada no asteroide é apenas em 2029, bem depois da empresa privada.

O objetivo no futuro é minerar o asteroide, por causa disso o alvo da missão não foi divulgado. De acordo com Matt Gialich, executivo-chefe da AstroForge em resposta ao The New York Times, o segredo é para proteger a rocha de concorrentes.

Anunciar qual asteroide estamos almejando abre o risco de que outra entidade possa capturar esse asteroide.

Matt Gialich

Leia mais:

O segredo pode ser um problema 

Quem não está nem um pouco contente com a missão são os cientistas. Desde que a humanidade começou a fazer lançamentos para o espaço, sempre sabíamos o que estava sendo enviado, para onde e o que iria fazer. Mas agora parece que o interesse privado está se sobressaindo. Jonathan McDowell, astrônomo do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, aponta que não parece uma boa ideia missões secretas como a do AstroForge.

Não sou muito a favor de ter coisas girando em torno do interior do sistema solar sem que ninguém saiba onde está. Parece um mau precedente a ser estabelecido.

Jonathan McDowell

Esse tipo de missão secreta mostra as falhas na regulamentação dos voos espaciais e destaca preocupações se a exploração do espaço continuará a beneficiar o interesse público, e não o privado.

A mineração de asteroides não é exatamente uma coisa nova, ela é idealizada desde os anos 2010. Nenhuma empresa privada ainda conseguiu atingir alguma rocha espacial devido aos investimentos necessários para missões do tipo. No entanto, com Elon Musk e seus foguetes reutilizáveis SpaceX, o custo para chegar ao espaço tem sido reduzido.

O grande problema da AstroForge ao enviar uma missão a um asteroide, segundo os cientistas, são os prejuízos que ela pode causar. Quando enviado para Lua, em 2019, o módulo comercial Beresheet construído em Israel, levava consigo milhares de tardígrados fornecidos pela Arch Mission Foundation. Esses animais são muito resistentes e levantou preocupações sobre a contaminação do solo lunar.

Os tardigrados são animais minusculos e super resistentes (Crédito: Pasotteo/ Shutterstock)
Os tardigrados são animais minusculos e super resistentes (Crédito: Pasotteo/ Shutterstock)

No caso do asteroide, ele poderia fornecer informações importantes acerca do núcleo da Terra, visto que sua origem é a mesma. No entanto, sua mineração pode impedir que ele seja eventualmente estudado. Gialich aponta que isso não deve ser considerado um problema porque eles irão compartilhar as imagens registradas durante a missão, apenas não vão divulgar qual é o destino dela.

Qual é o asteroide?

Apesar da AstroForge não divulgar seu alvo, não existem tantos asteroides disponíveis para qual ela pode estar enviando sua sonda Odin. Existem cerca de 30 mil rochas espaciais próximas à Terra, no entanto, as características que a empresa planeja encontrar limitam em muito o número de candidatos que podem ser o destino da missão.

  • O asteroide possui menos de 100 metros de diâmetro;
  • Ele pode ser alcançado em menos de um ano após o lançamento, o que significa que talvez ele passe próximo da Terra;
  • A AstroForge está indo atrás de um asteroide do tipo M, que é mais brilhante devido ao seu potencial metálico.

Assim, ao invés de procurar por 30 mil asteroides, quem quiser encontrar o alvo da missão Odin precisará procurar por apenas algumas centenas, ou até mesmo algumas unidades. De acordo com Mitch Hunter-Scullion, executivo-chefe da Asteroid Mining Corporation, uma concorrente da AstroForge, essas características reduzem a lista de candidatos a 300 asteroides. 

Já para Stephanie Jarmak, cientista planetária do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, a lista de alvos inclui apenas 14 asteroides. Destes, o mais promissor é o 2010 CD55, que tem cerca de 80 metros de comprimento, é razoavelmente brilhante e está perto o suficiente para ser alcançado em apenas 1 ano.

A AstroForge não confirmou se esse é o asteroide correto, mas mesmo que não seja possível descobrir o alvo da missão Odin antes do lançamento, astrônomos podem rastrear para onde a sonda está indo quando ela já estiver no espaço.

A missão será lançada em algum momento de 2024, mas a AstroForge ainda não divulgou uma data exata.


PUBLICIDADE
Imagem Clicável