Após inúmeras denúncias de ex-funcionários sobre a nocividade dos algoritmos do Facebook, a Meta, dona da rede social, anunciou hoje novos recursos para dar às pessoas um pouco mais de controle sobre o que aparece nos seus feeds.
De acordo com a Meta, “as pessoas agora poderão aumentar ou diminuir a quantidade de conteúdo que irão visualizar dos amigos, familiares, Grupos e Perfis que elas seguem e os tópicos que gostam em suas preferências do feed”. A empresa, contudo, não explicou como isso vai acontecer na prática.
A medida busca dar mais autonomia ao próprio usuário sobre o que ele deseja ver em sua rede social, diminuindo a responsabilidade do Facebook em relação aos conteúdos que chegam a eles, como discursos de ódio, desinformações ou até mesmo incitação à violência.
Além disso, a Meta anunciou que vai facilitar o acesso a controle e recursos de personalização do feed que já existem na plataforma, como os Favoritos, Soneca, Deixar de Seguir e Reconectar.
Todas essas iniciativas não estão disponíveis para todo mundo. Sem anunciar uma data, a Meta disse que a ideia é começar a testá-las “com uma pequena porcentagem de pessoas” para expandi-la gradualmente nas “próximas semanas”.
“Essa iniciativa faz parte dos nossos constantes esforços em dar às pessoas mais controle sobre seus feeds de notícias, permitindo que elas vejam mais do que querem e menos do que não querem. Continuaremos a compartilhar o nosso progresso conforme o andamento e aprendizados dos testes”, justificou a Meta, em comunicado.
Domando o algoritmo
A forma como o feed do Facebook funciona é a principal crítica de Frances Haugen, ex-analista da Meta que vazou para a imprensa documentos (os Facebook Papers) que mostram como a rede social foi negligente com denúncias de que o seu algoritmo dava espaço a discurso de ódio e fake news.
Segundo Haugen, o problema é o ranking de engajamento, que passa na frente os posts que geram mais interação com o usuário. Documentos vazados mostram que até o emoji de raiva é valioso para o algoritmo do Facebook.
Com essas novas opções de customização do feed, a Meta parece tentar abrir mão da responsabilidade pelo que as pessoas veem no Facebook. Mas os novos recursos ainda são opcionais —usuários terão que tomar a iniciativa de procurá-los e ativá-los se quiserem ter mais controle sobre o feed. O ranking de engajamento continua sendo o comportamento padrão do algoritmo.
Mudança em anúncios para perfis comerciais
Outra novidade da Meta é dar às pessoas mais controle sobre os anúncios das empresas que aparecem em seus feeds. Nesse caso, a iniciativa irá começar no primeiro trimestre de 2022 através da ferramenta “Preferências de Anúncios”.
A princípio, os testes serão feitos com “um número limitado de anunciantes que publicam anúncios em inglês”, disse a empresa.
Ao publicar um anúncio, a empresa terá que escolher um entre três tópicos com os quais ela não quer ser relacionada: “Notícias e Política”, “Temas Sociais” ou “Crime e Tragédia”. Os mesmos tópicos estarão disponíveis para as pessoas excluírem ou optarem por continuar recebendo no feed.
Funciona assim: quando os anunciantes escolhem o tópico “Notícias e Política”, 94% dos seus posts não aparecem para as pessoas que optaram por não receber posts pagos sobre esse assunto no feed. Os números são de um teste interno feito pela Meta.
“Conforme nossas conversas com representantes da indústria, sabemos que essa solução talvez não atenda às necessidades de todos os anunciantes e que alguns deles estejam buscando um nível de controle mais detalhado. Por isso, nós enxergamos esse produto como uma ponte entre o que podemos oferecer hoje e onde esperamos chegar”, analisa a Meta.
Abrindo a caixa preta?
O sigilo sobre o abastecimento e operacionalização dos algoritmos do Facebook —alvo de críticas de especialistas— também poderá sofrer mudanças.
A Meta também anunciou que, até o fim de 2021, pretende trabalhar em colaboração “com parceiros terceirizados de segurança” para desenvolver “uma solução que verifica se o conteúdo próximo ao anúncio no Feed de Notícias está alinhado com a adequação de preferências da marca”.
Ou seja, a Meta vai buscar ajuda de fora para garantir que anúncios dos seus clientes não apareçam ao lado de posts que ferem sua política, como fake news ou discurso de ódio. Até hoje, essa checagem é feita apenas por funcionários da empresa. Não foi explicado no anúncio até que ponto esses agentes externos terão autonomia nesse processo.
O recebimento das propostas de interessados em trabalhar com a Meta está previsto para começar “nas próximas semanas”, e a ideia é compartilhar o progresso nessas iniciativas “conforme elas forem sendo desenvolvidas”.
*Com colaboração de Lucas Carvalho