Hugo LLoris é um cara de sorte.
O goleiro e capitão francês, ao receber um recuo de bola na pequena área na final da Copa do Mundo de 2018, na Rússia, tentou fazer o que não devia: driblar o atacante.
Mandzukic esticou o pé direito, a finta de Lloris falhou, a bola bateu no croata e foi parar nas redes.
Um tremendo vexame, um erro clamoroso na decisão do mais importante campeonato de futebol do planeta.
Então por que LLoris é um sortudo?
Porque a França vencia a partida por 4 a 1 no momento da patacoada que ele fez, e a Croácia não teve força para fazer mais gols no duelo em Moscou.
A lambança do camisa 1 não foi esquecida, porém acabou minimizada por não afetar o resultado final.
Lúcio, um dos melhores zagueiros que a seleção brasileira já teve, também é um cara de sorte.
Nas quartas de final da Copa do Mundo de 2002, disputada na Coreia do Sul e no Japão, ele errou feio ao tentar cortar um lançamento de Heskey para Owen.
Lúcio estava “torto” na jogada, e a bola bateu em seu quadril e sobrou para o rápido atacante, que deslocou o goleiro Marcos e colocou a Inglaterra na frente.
Um erro grosseiro, gritante, em um jogo entre duas potências do futebol, pode pôr tudo a perder.
Só que Lúcio é um sortudo, pois tinha no seu time um Ronaldinho Gaúcho inspiradíssimo naquele dia no estádio Shizuoka, na cidade japonesa de Fukuroi.
O meia-atacante puxou um contra-ataque no fim do primeiro tempo e deu passe açucarado para Rivaldo empatar.
Na segunda etapa, em um de seus gols mais famosos, cobrou uma falta que encobriu o goleiro Seaman. Até hoje questiona-se se Ronaldinho quis chutar para o gol ou se “errou” o cruzamento.
A bobeira de Lúcio, a exemplo da de Lloris, é recordada, mas não torna o beque um vilão, já que o Brasil ganhou o jogo e, depois, sagrou-se pentacampeão mundial.
Já o belgo-brasileiro Andreas Pereira não é um sortudo.
O meio-campista do Flamengo cometeu um erro que custou muito caro –a ele, ao time e à maior torcida do Brasil.
No começo da prorrogação, na final da Libertadores contra o Palmeiras, no sábado (27) em Montevidéu, Andreas recebeu passe de David Luiz na defesa.
Estava sozinho, era o último homem, porém não parecia estar em situação difícil. Podia recuar para o goleiro Diego Alves ou passar para Rodrigo Caio, que estava a uma pequena distância.
Isso se não hesitasse ou bobeasse. Ao tentar dominar a bola, Andreas deu um passo em falso, e ela escapou. Em um segundo, o flamenguista se deu conta de estar em apuros.
Com a proximidade de Deyverson, que vinha em velocidade, o camisa 18 ainda tentou, em um esforço que se mostrou em vão, chutar a bola para que ela chegasse a Diego Alves.
O resto da jogada todos sabem. Deyverson ficou com a bola, entrou na área e fez o gol que deu ao Palmeiras a taça da Libertadores.
⚽️ O gol do título! Por um novo ângulo, o lance que levou o @Palmeiras de novo à #GloriaEterna! Deyverson é o herói do campeão da CONMEBOL #Libertadores. pic.twitter.com/FgfICpIDiF
— CONMEBOL Libertadores (@LibertadoresBR) November 28, 2021
Andreas ficou desolado, caído no chão, ciente de que estava prestes a se tornar o vilão da nação rubro-negra. Começou ali a viver um pesadelo, que se mostrou real e do qual não despertará.
Diferentemente do que ocorreu com Lloris e com Lúcio, a falha não será esquecida ou minimizada.
Quando alguém, hoje ou daqui a anos, perguntar o que provocou a derrota do Flamengo na decisão da Libertadores de 2021, a resposta será: o deslize de Andreas.
Dizem que o futebol é um esporte coletivo. Que quando o time ganha o mérito é de todos e que quando o time perde o fracasso pertence ao conjunto.
Balela. Um erro individual, se de proporção gigante, não é culpa do time. O responsável é exclusivamente aquele que vacilou. Barbosa, goleiro do Brasil na Copa de 1950, que falhou no gol que deu o título ao Uruguai, que o diga.
Andreas, 25, deve ter passado um fim de sábado e um domingo terríveis, relembrando seguidamente o lance fatídico.
Muitas perguntas ele deve estar se fazendo até agora.
“Por que dominei tão mal uma bola fácil?” “Por que Deyverson não errou o chute?” “Por que Diego Alves não evitou o gol?” “Por que o Flamengo não conseguiu reagir?” “Por que isso aconteceu justo comigo?”
E a questão principal: “Como a torcida vai me tratar daqui para a frente?”.
São perguntas sem respostas claras ou até mesmo sem respostas.
Por ora, o que se pode afirmar, sem hesitação, é isto: Andreas não é um cara de sorte.