A transformação do Twitter em X vai impedir a empresa de falir? Entenda

Depois de 17 anos de existência, o Twitter como conhecíamos acabou e deu lugar ao X. A mudança no microblog mais popular da internet aconteceu ontem (23) e a promessa é que a transformação não será apenas estética e nominal.

E o fim do simpático Larry, o pássaro azul, para a chegada da vigésima quarta letra do alfabeto romano causou desconfiança em muita gente. Parte dos usuários estão incomodados há bastante tempo com as decisões do bilionário Elon Musk, que comprou a empresa no final do ano passado.

Mas qual o impacto de uma mudança desta magnitude para uma rede social que já estava consolidada? Beatriz Guarezi, especialista em branding e criadora da Bits to Brands, explica melhor sobre o “rebranding” do Twitter ao TecMundo nas linhas a seguir.

“O rebranding é quando acontece uma mudança visual que evidencia uma mudança estratégica, seja como um reflexo de mudanças que já vem acontecendo ou um ponto de partida”, diz.

Sobre possíveis prejuízos de uma transformação tão grande, ela comenta que a empresa está correndo risco de “jogar fora” os anos de construção de valor de uma marca que já estava no imaginário das pessoas.

Guarezi lembra que com o fim do Twitter, deixarão de existir também termos como tweet e retweet (ou tuíte e retuíte na versão aportuguesada). Por enquanto, Musk já anunciou que as publicações serão chamadas de “xs”, restando o mistério de qual será a pronúncia disso.

“Quando uma empresa propõe uma mudança como esta, os executivos precisam ter muita confiança na coisa nova que estão criando. A missão deles é entregar tudo de uma forma muito atrativa, para que as pessoas comprem esse novo momento”, argumenta.

O fim do tuiteiro

A especialista em branding lembra que um dos aspectos importantes da história do Twitter foi criar praticamente um tipo de perfil na internet: o tuiteiro. Esta é aquela pessoa que estava por dentro de todas as principais conversas e que conseguia se antenar no que estava acontecendo no mundo de maneira quase instantânea.

Além de marcar o fim deste arquétipo e matar um vocabulário, o lançamento do X gera uma dúvida sobre o futuro da rede. Guarezi é cética sobre se as pessoas vão ou não permanecer no X.

“O Twitter é aquele lugar da internet onde só quem está entende. O assunto surge, explode ali e quando vai para qualquer outra rede social, não chega mais do mesmo jeito. E eu acredito que [no X] vai existir um estranhamento. Eles [executivos do X] querem criar uma plataforma baseada em uma dinâmica diferente com uma audiência que está ali porque quer interagir daquele jeito específico”, pontua.

Guarezi afirma ter percebido que a mudança criou um desconforto, já que a identidade visual mudou, mas tudo tem funcionado praticamente da mesma forma. “Eu não sei se as pessoas vão ficar. Mas eu já vi de tudo, inclusive gente falando que vai fingir que nada mudou e vai continuar tuítando”, brinca.

Reação dos usuários

Como a especialista em branding comentou, as reações foram à chegada do X foram diversas. Muitos usuários reclamaram e prometeram sair de vez da rede, enquanto outros se portaram como se nada tivesse acontecido.

O que não mudou é o que acontece com a plataforma desde seu lançamento em 2006: a zoeira tomou conta. O público do saudoso Twitter e até contas oficiais de empresas fizeram piada com a situação e aproveitaram para divulgar dezenas de memes. Confira, abaixo, alguns deles:

O X vai impedir a empresa de falir?

Elon Musk comentou algumas vezes que o Twitter estava passado por uma forte crise financeira nos últimos anos. Em uma conversa nos Spaces, em dezembro do ano passado, ele chegou a falar que o Twitter era “como um avião que foi direto para o solo com os motores em chamas”.

“O Twitter tem apenas cerca de US$ 1 bilhão em dinheiro. Passei as últimas cinco semanas cortando custos na empresa porque os tempos são difíceis”, afirmou em outro momento.

Se a situação já era difícil antes da compra, depois as coisas ficaram ainda mais complicadas. Em uma publicação feita há quase dez dias, Musk confirmou que a companhia está com fluxo de caixa negativo e que perdeu cerca de 50% da receita com publicidade.

TwitterO antigo Twitter passa por uma fase financeira complicada (Imagem: Justin Sullivan/Getty Images)

Beatriz Guarezi afirma que o movimento de desconfiança dos anunciantes vinha por conta de fatores como mudanças no algoritmo (que impactaram a entrega das publicações para as pessoas) e no desmonte dos times de moderação de conteúdo.

O super app X

Desde antes de comprar o Twitter, Elon Musk já falava sobre seus planos de criar um super app. Daqui a algum tempo, o X se transformará em uma plataforma com áudio, vídeo, mensagens, pagamentos e mais.

Linda Yaccarino, CEO do X, explicou ontem (23) que a nova rede será o “futuro da interatividade ilimitada”. A ideia é criar “um mercado global para ideias, produtos, serviços e oportunidades” que será “impulsionado por inteligência artificial”.

Beatriz Guarezi comenta que o lançamento de uma plataforma que une várias soluções em um lugar só sugere uma mudança de rentabilização. “Me parece uma estratégia mais voltada para os usuários ao invés de anunciantes”, defende.

XElon Musk é um fã da letra X (Imagem: Dan Kitwood/Getty Images)

Arthur Igreja, especialista em Tecnologia, Inovação e Tendências, explica em entrevista ao TecMundo que um super aplicativo faz sentido do ponto de vista de negócios. Ele lembra que a Ásia possui uma ferramenta do tipo, citando o chinês WeChat, que conta com mais de 1 bilhão de usuários e funciona como rede social, mensageiro, aplicativo de transporte, banco e muito mais.

Igreja diz que apesar da ideia fazer sentido, a tarefa de tornar o X rentável será árdua. “Porque estamos falando de conquistar inúmeros territórios que hoje estão estabelecidos, ou seja, é um grande desafio. E essa questão financeira do Twitter piora, pois há menos capacidade de investimento, já muita gente foi mandada embora. Tudo isso é um agravante”, finaliza.

Tanto Igreja quanto Guarezi concordam que ainda é cedo para dizer se o X irá salvar ou não o antigo Twitter de uma possível falência. Só que ambos são unânimes no fato de que a nova plataforma precisará se manter atrativa se não quiser ver uma debandada para concorrentes como o Threads.


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