A história do canivete – A pequena invenção prática e revolucionária

Poucos sabem sobre a história do canivete e como ele foi desenvolvido ao longo da história. Tecnicamente falando, o canivete é um utensílio que agrupa componentes da cutelaria, cumprindo funções esportivas e profissionais, variando de tamanho, portabilidade e segurança.

Mas antes de entrar em detalhes na história do canivete, é importante também sabermos a história das facas (e de lâminas em geral). As primeiras facas foram inventadas pelo homo sapiens durante os tempos pré-históricos e foram usadas como armas, ferramentas e talheres.

O Oldowan, uma ferramenta rudimentar de pedra lascada, foi usada até 2,5 milhões de anos atrás e é a ferramenta semelhante a uma faca mais antiga conhecida e foi descoberta em 2014.

Sem facas, nossos ancestrais não teriam sido capazes de caçar, pescar, colher comida, construir casas para si ou até mesmo se defender. A maior parte de nossa civilização como a conhecemos hoje não existiria se não fosse pela invenção das lâminas de corte.

Essas primeiras ferramentas eram simples, geralmente feitas com uma ou mais pedras lascadas uma com a outra. Elas apareceram pela primeira vez nas bacias de Gona e Omo, no que hoje é a Etiópia.

A invenção da faca

Conforme descrito, as “facas Oldowan” (ou facas Olduvaienses) eram feitas quebrando outras pedras para criar um bloco de bordas afiadas. Estes blocos eram usados ​​como cortadores, provavelmente para desmembrar carcaças de caça ou para descascar plantas duras.

Arqueólogos encontraram a evidência mais antiga de resíduo de proteína em ferramentas de pedra de 250.000 anos atrás em Azraq Oasis, no nordeste da Jordânia. O resíduo eram restos de animais mortos, como cavalo, gado selvagem, aves e rinoceronte.

A descoberta do fogo, aproximadamente há 1,6 milhão de anos atrás, abriu as portas para a criação de ferramentas que foram moldadas em vez de lascadas, raspadas ou esculpidas. As idades do cobre e do bronze começaram e trouxeram mudanças drásticas para a tecnologia de lâminas.

No entanto, essa transição teve uma pequena desvantagem. As lâminas de metal não eram tão afiadas quanto bordas de pedra e não mantinham o corte por muito tempo. Isso levou ao uso de pedras de amolar, para manter a função dessas novas ferramentas.

Em compensação essas novas ferramentas de metal eram muito mais duráveis ​​do que as de pedra e, nesse cenário de sobrevivência do mais afiado, as facas de mão de pedra pareciam ser selecionadas obsoletas. Com o passar dos séculos, o bronze deu lugar ao ferro e depois ao aço.

Com cada novo material, a durabilidade e a facilidade de manutenção de uma faca melhoravam, e uma variedade de propósitos apareciam, como picar, desossar e aparar. Os antigos romanos até tinham um dispositivo próximo a um canivete suíço que incluía uma faca, um garfo e uma colher (imagem abaixo).

Entretanto, desde a Idade da Pedra (300.000 a.C. a 2.000 a.C.) até a Idade do Ferro (1.200 a.C. a 1.000 d.C.), o desenvolvimento da faca esteve intimamente relacionado à guerra. O design da faca de cozinha romana ecoa o da lâmina trácia Sica (Espada de gladiador feita com lâmina de aço carbono ).

Facas têm sido usadas como armas, ferramentas e talheres desde os tempos pré-históricos. No entanto, é apenas em tempos bastante recentes que as facas foram projetadas especificamente para uso em mesa.

Os anfitriões não forneciam talheres para seus convidados na Idade Média na Europa. A maioria das pessoas carregava suas próprias facas em bainhas presas aos cintos. Essas facas eram estreitas e suas pontas afiadas eram usadas para espetar comida para levá-la à boca para comer.

O início da história do canivete

Na prática o canivete é uma faca “melhorada”, podendo ser dobrada, sendo, desta maneira, uma lâmina estilizada que cabe no bolso. A origem do canivete é antiga, pois data do período pré-romano. O canivete mais antigo já descoberto remonta a cerca de 600 a 500 a.C., e foi desenterrado em Hallstatt, na Áustria, com uma única lâmina com uma empunhadura feita de osso.

Muitas facas dobráveis foram encontradas a partir da era viking. Estes guerreiros carregavam algumas espadas, mas com mais frequência usavam facas de fecho que usavam um prendedor para manter a lâmina aberta.

Com o passar dos anos e métodos concebidos com a tecnologia, o canivete ganhou novas formas, modelos e materiais, marcando presença e provando a cada dia que não desapareceria tão cedo. Historiadores acreditam que o canivete se originou em algum lugar nas regiões germânicas da Europa, mais precisamente no norte da Itália, e remonta entre 600 e 500 a.C., embora a evidência seja difícil de comprovar.

O que se pode dizer é que essas facas dobráveis eram bastante primitivas em sua construção. Elas consistiam em um cabo muito simples e uma lâmina um tanto pesada presa por uma dobradiça simples, sem fechadura ou mola para mantê-la fechada e/ou aberta.

Modelo de “faca camponesa” de 1650 | Foto: https://coolmaterial.com/

Com a ascensão do Império Romano veio uma infinidade de avanços tecnológicos em todo o mundo conhecido. Enquanto as facas dobráveis ​​permaneceram praticamente as mesmas em relação à forma, a qualidade dos materiais e designs melhoraram.

Em outras partes do mundo, mesmo antes da queda do Império Romano, muitas culturas desenvolveram suas próprias versões de facas dobráveis ​​compactas. Os vikings criaram suas próprias facas dobráveis e giratórias com lâminas de ferro e cabos de osso esculpido durante os séculos VIII e XI, respectivamente. Esses tipos de facas dobráveis ​​também eram chamados de facas de centavo, camponês ou fazendeiro.

Escavações arqueológicas encontraram uma faca dobrável cuja lâmina é mantida no lugar pelo aperto do usuário feita de metais como cobre, ferro e aço. Tais exemplos podem ser rastreados até 43 D.C..

O canivete do camponês, o canivete do fazendeiro ou o canivete penny é o design original e mais básico de um canivete, usando uma lâmina articulada simples que se dobra para dentro e para fora do cabo livremente, sem mecanismo de travamento da mola, junta corrediça ou travamento da lâmina.

O modelo que é usado atualmente, cabo e somente lâmina, foi desenvolvido na Europa, principalmente na França, Escócia, Alemanha e Inglaterra. O aperfeiçoamento do item aconteceu na Península Ibérica, através da influência dos mouros com desenhos e arabescos (desenhos formados por padrões geométricos).

As primeiras facas camponesas datam da era pré-romana, mas não foram amplamente distribuídas nem acessíveis para a maioria das pessoas até o advento da produção limitada de tais facas em centros de cutelaria como Sheffield, Inglaterra, começando por volta de 1650.

Faca dobrável espanhola introduzida por volta de 1600 | Foto: https://coolmaterial.com

De acordo com o autor Simon Mooreem seu livro, Penknives and Other Folding Knives o mecanismo que usa tensão de mola para manter a lâmina de um canivete estendida foi inventado por volta de meados de 1600 na Inglaterra. Ele usava a tensão de uma mola para manter a lâmina do canivete estendida.

Este modelo inventado no século XIV é amplamente utilizada hoje, mesmo por fabricantes de canivetes mais estabelecidos.

O mais conhecido atualmente é o modelo suíço, com várias funções além da lâmina de corte. Obviamente que existem muitas outras marcas, especialmente que desenvolvem modelos mais simples e minimalistas. Mas o canivete suíço e esportes outdoor são intimamente ligados.

Surge o canivete suíço

Foto: https://www.victorinox.com

O canivete suíço nasceu no final do século XIX, criado pelo mestre cuteleiro suíço Karl Elsener. Elsener percebeu na época que o exército suíço comprava na Alemanha todos seus canivetes. Visando ascensão profissional, decidiu realizar formação na área de cutelaria em Tuttlingen, uma cidade situada no sul da Alemanha.

Após formar nesta escola, abriu sua oficina de cutelaria em 1884, na cidade suíça Ibach Schwyz. Nos primeiros anos de trabalho, Karl se dedicou no desenvolvimento e melhoramento de canivetes.

Seis anos depois, em 1891, conseguiu a sua primeira encomenda para o exército suíço, ficando assim esse ano definitivamente associado a um dos objetos de design industrial do século XX.

orém ele não teve uma vida fácil, pois nos primeiros anos ele já começou a ter concorrência. Uma segunda indústria de cutelaria Suíça, chamada Paulo Boechat & Cie, foi fundada. A empresa ficava em Delémont, região suíça de língua francesa e começou a vender um produto similar. Além disso, a mesma empresa também tornou-se fornecedor para o exército suíço.

Esta empresa foi posteriormente adquirida pelo ministro Theodore Wenger, que tinha atuado nos EUA e retornava ao país, que viria a rebatizar a companhia como seu sobrenome. Por mútuo acordo, Wenger anunciava seus produtos como “”o genuíno canivete suíço” e Elsener anunciava como o “canivete suíço original”.

O primeiro modelo de Canivete suíço em 1891 | https://coolmaterial.com

Para diferenciar os seus canivetes dos modelos alemães, ambos colocaram o símbolo da Suíça, para tentar atrair clientes das mais variadas áreas da sociedade. Karl Elsener procurou aperfeiçoar o seu produto equipando-os com as mais variadas ferramentas.

O modelo original, destinado ao exercito suíço, tinha duas versões: uma para os soldados, que tinha como extras uma chave de fendas, uma agulha e um abre-latas, e outra para os oficiais com extras da “versão soldado”, equipado com saca-rolhas e uma segunda lâmina mais pequena. Este produto foi registrado em 1897 e tornou-se a base de todo o sucesso comercial da empresa.

No ano de 1909, a empresa de Karl Elsener assume a designação de “Victoria”, o nome da mãe. A partir de 1921, quando o aço inoxidável foi desenvolvido, adota o nome “Victorinox” (que reconhece a importância do novo e principal material de produção da fábrica).

O mais vendido canivete suíço é o Spartan, sucessor do modelo de 1897, com nove ferramentas: lâmina grande, lâminas pequena, abridor de latas, saca-rolhas, furador/escareador, argola de chaves, palito de dentes, pinça e saca-rolha.

Desde os anos 1940 a empresa é fornecedora, para além do exército suíço, de exércitos dos EUA, Alemanha, entre outros. Atualmente a empresa Victorinox apresenta mais de 400 modelos diferentes que respondem a mercados que ultrapassam em muito as necessidades do exército.

Esta peça de corte cumpre funções de suma importância em atividades desportivas e profissionais, pois dado ao seu tamanho compacto, segurança, portabilidade e uma diversidade de mecanismos de abertura rápida da lâmina, é empregado por praticantes de esportes de aventura, grupos táticos e de resgate, pois a praticidade e segurança no seu uso não tem equivalência a nenhuma outra ferramenta similar.


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