Aliança de países propõe acabar com os combustíveis fósseis em negociações na COP26

Glasgow, 11 Nov 2021 (AFP) – Uma aliança de países liderados por Costa Rica e Dinamarca anunciou nesta quinta-feira(11) sua intenção de acabar com a produção de gás e petróleo, uma nova iniciativa durante as negociações sobre mudanças climáticas na COP26.

A Beyond Oil and Gas Alliance (BOGA) começa com doze membros, incluindo França, Suécia e Portugal, e territórios subnacionais como a Califórnia.

Todos estão empenhados em deixar de explorar e produzir gás e petróleo, responsáveis pela maior parte das emissões de carbono que estão elevando a temperatura do planeta.

“Temos que começar esta conversa, temos que ver medidas concretas. Estamos ouvindo o mundo além dessas paredes”, disse a ministra do Meio Ambiente e Energia da Costa Rica, Andrea Meza.

“As promessas soam vazias quando a indústria de combustíveis fósseis continua recebendo bilhões em subsídios (…) ou quando os países continuam a construir usinas a carvão”, acrescentou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, posteriormente em uma cerimônia.

– Imersos em negociações -Os quase 200 países presentes na COP26 estão imersos em negociações para produzir nesta sexta-feira um documento que aumente a ambição e os compromissos de manter o aquecimento global, idealmente em + 1,5ºC, e que implique inevitavelmente uma redução radical das emissões.

Petróleo e gás representam 90% das emissões de CO². A missão da COP26 de Glasgow é desenvolver o histórico Acordo de Paris de seis anos atrás.

“Existem muitas reservas de petróleo e gás e precisamos decidir o que vamos fazer com elas. É preciso tomar decisões políticas complexas”, explicou a ministra costarriquenha à AFP durante uma pausa nas negociações.

– Financiamento, o grande obstáculo -Depois de apresentar a aliança BOGA, a ministra voltou à tarefa de coordenar as negociações e dar coerência ao complexo documento final da COP26.

A conferência deve terminar na sexta-feira com um documento que inclui também as regras de vigilância mútua, transparência, sincronicidade das datas e a maneira como apresentam seus objetivos climáticos, e inclusive como devem ser indenizadas as perdas e quem paga por isso.

A presidência da COP dividiu, como de costume, a negociação por setores, e encarregou Meza de dar coerência ao texto final.

“Há uma série de economias emergentes que não podem mais ser tratadas como países em desenvolvimento e essas são conversas não resolvidas, com muita geopolítica. É isso que torna, eu acho, a questão do financiamento sempre tão complexa e é sem dúvida uma das essas questões que fecham ou atrapalham muitas das salas” onde estão sendo realizadas as negociações, disse Meza à AFP.

“Principalmente o financiamento para adaptação, que é muito importante para a maioria dos países”, explicou.

Diante do aquecimento, que modifica irreversivelmente o clima do planeta, os representantes políticos têm basicamente duas estratégias sobre a mesa, mitigação (redução de emissões) e adaptação (como construção de barragens).

O mundo desenvolvido estabeleceu oficialmente o valor de 100 bilhões de dólares por ano para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar a gigantesca tarefa de reduzir as emissões de poluentes, além da adaptação para as mudanças.

O valor é uma base, insistem os países pobres. E o Acordo de Paris já previu a necessidade de renegociação para depois de 2025.

“Para chegar ao objetivo de 1,5 ºC… sabemos que já gastamos 50% do orçamento de carbono”, ou seja, de emissões, criticou Diego Pacheco, principal negociador boliviano e porta-voz do denominado ‘Like Minded Group of Developing Countries’ (LMDC, Grupo de Países em Desenvolvimento com Ideias Semelhantes).

“Não somos responsáveis pelo fosso entre as promessas de corte de emissões e a realidade”, completou o boliviano.

Sobre a mesa aparecem esporadicamente valores astronômicos, o mais recente da ordem de 1,3 trilhão de dólares por ano, que devem ser gastos em partes iguais entre adaptação e mitigação, segundo uma proposta de países da América Latina, África e Ásia.

A grande maioria dos países em desenvolvimento reclama que pouca atenção é dada à adaptação.

Outro capítulo polêmico e de grande complexidade são os mercados de emissão de carbono, ou seja, a possibilidade de os países trocarem cotas de emissões na atmosfera, ou compensá-las com outros tipos de medidas, como o plantio de árvores.

“Tem sido muito complexo, mas acho que há propostas na mesa que nos fazem acreditar que vamos conseguir um bom resultado. Acho que todas as partes estão cientes de que não podemos continuar chutando a bola, então talvez nesta COP, mais do que em qualquer das anteriores, estamos muito próximos de conseguir um resultado “neste capítulo, disse a ministra à AFP, durante a breve pausa negocial.

jz/mar/fp/jc


PUBLICIDADE
Imagem Clicável