Pioneiro na ideia de um metaverso, Philip Rosedale, criador do game de mundo virtual Second Life, levantou dúvidas sobre os planos do Facebook de criar seu próprio metaverso e alertou que isso é algo que precisa ser minuciosamente estudado para que não haja consequências indesejadas.
Em entrevista ao portal de notícias norte-americano Axios, o idealizador do jogo, febre em meados dos anos 2000 e que se tornou uma forma de viver virtualmente, falou sobre a importância de um sistema de moderação para permitir uma convivência harmônica dos usuários no ambiente online.
Rosedale disse que, apesar de ter trabalhado no formato há duas décadas, sua visão sobre o conceito mudou. Ele acrescentou que a experiência lhe trouxe muito aprendizado sobre ambientes digitais, como o processo de aceitação parcial do público, que mesmo gostando de ter uma vida diferente no virtual, como no caso do jogo, as pessoas geralmente não permaneciam muito tempo dentro dele.
“Acho que o que aprendemos —e um tanto com certa tristeza, pelo trabalho que fiz, devo concordar— é que não é para todos, e talvez nunca seja para todos”, disse.
Aparato técnico pode excluir pessoas
Outra observação feita por Rosedale é com relação às barreiras de entrada ao sistema. Hoje, para acessar ao metaverso da Meta é preciso usar óculos de realidade virtual (RV), embora a empresa já tenha dito que pretende integrá-lo aos programas existentes.
Isso tudo vai exigir que os internautas tenham um aparato técnico como internet rápida, óculos de RV e computador com boas configurações, o que seria inviável para algumas pessoas.
Consequências reais para quem abusar do virtual
Na entrevista, Rosedale destacou também a importância de proteger as pessoas ao identificá-las e garantir consequências as ações tomadas no mundo online, pois somente assim elas se comportarão de forma correta.
Segundo ele, a internet ainda não tem sistema de identificação para a realização de um monitoramento eficaz das atitudes dos usuários, fator que pode se tornar um problema — não é preciso ir longe para ver o grave problema dos discursos de ódio e fake news sendo disseminados pela internet.
Por fim, o criador do Second Life, afirmou ainda há outra questão a se pensar: os avatares. Na opinião dele, nem todos os usuários querem se apresentar como um desenho animado.
Cuidadosamente otimista
Apesar de lançar várias dúvidas sobre o metaverso, Rosedale relatou também estar otimista com o futuro dos mundos virtuais e a forma com que as pessoas vão interagir nesse universo.
“Você pode ser capaz de criar um espaço público que pode ser uma coisa positiva para as pessoas —onde você pode ir e fazer novos amigos, onde você pode gritar sobre a injustiça”, acrescentou durante a entrevista.
Second Life
O jogo, febre há duas décadas, consistia em uma plataforma online em que os jogadores criavam avatares e uma “vida” no mundo virtual. A plataforma chegou a registrar a marca de um milhão de usuários mensais.
No jogo, os visitantes podiam socializar com amigos, conhecer os arredores, comprar terrenos virtuais, irem à shows, promoverem desfiles de modas e até mesmo aceitar empregos como artistas, políticos ou professores.