Poucas séries de jogos conseguem chegar aos 30 anos de existência, e um número ainda menor delas faz isso mantendo a relevância do passado. Tekken 8 é um exemplo de uma franquia que sobreviveu bem à passagem do tempo, combinando um legado que data do primeiro PlayStation a uma série de novidades que mantém seu gameplay refrescante e desafiador de dominar.
Lançado no dia 25 de janeiro deste ano, o game trouxe consigo várias dúvidas sobre seus sistemas de acessibilidade e gameplay antes de sua estreia. No entanto, a versão final não somente mostra que seus desenvolvedores têm uma visão clara para o futuro, como estão dispostos a investir nesse caminho sem deixar de lado a base de fãs que conquistaram pelo caminho.
Entregando um pacote completo e um elenco de personagens invejável, o título ainda assim não é perfeito e tem espaço para melhorias. Mesmo assim, ele se configura facilmente como um dos melhores jogos de luta 3D dos últimos anos e mostra que em time que está ganhando se mexe sim, especialmente se for para deixar as coisas melhores.
Tekken 8 traz uma história digna de anime
Embora não seja um requisito obrigatório para um bom game de luta, o modo história se tornou algo essencial para qualquer novo Tekken. Em seu oitavo título numerado, a franquia traz o foco da narrativa para Kazuya Mishima e Jin Kazama, pai e filho que lidam de maneira diferente com o legado de seu DNA demoníaco.
Embora dê algum espaço para outros personagens, a trama é totalmente focada nos dois personagens e no quanto eles são poderosos. O Modo História do game traz cenas dignas de alguns dos melhores animes shonen do mercado, com direito a cidades explodindo, combates com bolas de energia gigantescas e exércitos lutando.
Dentro desse contexto, o torneio Tekken (The King of Iron Fist) é até lembrado, mas acaba surgindo de forma bem secundária. Trazendo um desfecho satisfatório e muitas possibilidades para o futuro, a história principal não é uma aula de narrativa, mas funciona bem dentro do contexto da franquia e do tamanho que ela tomou com o passar do tempo.
Além dela, há pequenos capítulos de personagens que funcionam mais como um modo arcade tradicional. Enquanto muitos deles estão ligados à trama principal, outros trazem somente pequenas vinhetas que mostram as particularidades de suas personalidades ou ambições pessoais. Vale a pena jogar a narrativa de cada um, nem que seja para conhecer melhor algum boneco com o qual você não esteja acostumado mecanicamente.
Profundidade intacta
Embora o Estilo Especial tenha sido bastante destacado pela Bandai Namco durante a divulgação de Tekken 8, quem é fã de jogos de luta não precisa se preocupar. O sistema pode facilitar o acesso a certas combinações de golpes, mas de nenhuma forma substitui toda a complexidade do jogo, tampouco a necessidade de aprender “para valer” como ele funciona.
De certa forma, o novo modo (totalmente opcional) serve mais para quem deseja jogar de forma casual ou durante o Modo História, especialmente quando personagens além de Jin e Kazuya tomam o protagonismo. Muito disso decorre do fato de que ele garante acesso facilitado a uma quantidade muito limitada de golpes, e sempre há como ver se o sistema é usado por um oponente.
Em outras palavras, o Estilo Especial é capaz de tornar seu oponente bastante limitado e previsível. Ele não funciona como o sistema simplificado de Street Fighter 6, por exemplo, que muda a execução de golpes, mas também dá espaço para experimentalismo. Em Tekken 8, a opção “fácil” não é uma saída que traga muita flexibilidade na maneira como é utilizada.
Enquanto muitos personagens tenham sofrido alterações em alguns de seus golpes, todos eles possuem uma grande complexidade de movimentos que vai levar horas para entender, e ainda mais tempo para dominar. Nesse sentido, Tekken 8 vai no caminho contrário de outros jogos de luta recentes, não confundindo acessibilidade com dar menos opções ao jogador.
Tekken 8 vai no caminho contrário de outros jogos de luta recentes, não confundindo acessibilidade com dar menos opções ao jogador
Ao mesmo tempo, a Bandai Namco evita que você fique perdido ou não saiba o caminho a seguir com o novo modo Missão Arcade. Apesar do nome que pode trazer interpretações variadas, ele deve ser tratado como um “grande tutorial” que vai ensinar desde o básico do jogo até comandos avançados do personagem selecionado.
Na prática, dá para pensar nele como um grande “guia direcionado” de como aprender o game, sem que isso se torne algo enfadonho ou excessivamente didático. Em muitas lutas, o jogo vai deixar que você decida por conta própria o que fazer, simplesmente sugerindo alguns movimentos que podem ser usados para criar novas situações de ataque ou responder a seus oponentes.
Tekken 8 prioriza a agressividade
Mesmo quem é veterano da franquia deve dar alguma atenção ao Missão Arcade, especialmente devido aos novos sistemas de jogo. O principal deles é o Heat, uma espécie de aura que pode ser ativada uma vez por round e estimula a agressividade dos jogadores. Isso porque, enquanto ela está ativada, todos os golpes causam mais dano (incluindo quando o oponente se defende).
A aura especial também garante acesso ao Heart Burst, um golpe bastante poderos, mas que gasta toda a sua barra especial de uma só vez. A solução criada pela Bandai Namco é eficiente pela sua capacidade de mudar o rumo de uma batalha, ao mesmo tempo em que não é ilimitada ou injusta.
Isso adiciona uma nova camada estratégica às batalhas, já que é preciso saber muito bem quando usar o recurso — e como fazer isso. Por exemplo, você pode tentar usá-lo no começo da batalha para conseguir uma boa vantagem e iniciar o round causando bastante dano. Ao mesmo tempo, guardá-lo para os momentos finais pode ajudar a mudar o rumo de uma partida que parece perdida.
Também é preciso levar em conta questões como contra-ataques, posicionamento de inimigos e a chance de ser jogado aos céus e ter todo seu Heat desperdiçado enquanto sofre com um combo inimigo. O novo sistema de Tekken 8 cumpre bem a tarefa do que se espera de uma sequência de jogo de luta: adiciona algo novo, mas que não torna as coisas excessivamente fáceis ou “burras”.
Outro ponto que ajuda muito o game é a presença de um modo online com ótimo netcode. Jogando no PC, não testemunhamos nenhum grande problema de conexão, independentemente do tipo de conexão ou distância dos oponentes — que podem ser de qualquer plataforma, graças ao crossplay nativo.
No entanto, não é possível afirmar que a experiência é uniforme o tempo todo. Embora ela sempre funcione, batalhar contra quem usa Wi-Fi e está distante torna mais evidente o uso do netcode e pode resultar em algumas “paralisações” temporárias. No entanto, isso não é algo grave ou que fuja do que os melhores jogos do gênero têm a oferecer como solução atualmente.
A maior reclamação sobre o modo online de Tekken 8 é o fato de que seus lobbies pecam um pouco em comparação com o de outros jogos. Organizar partidas e torneios podia ser um processo um pouquinho mais fácil, e faltam opções que permitam ficar observando as batalhas alheias enquanto você espera a chegada de sua vez.
Um pacote completo
Além de trazer um sistema de gameplay robusto, um online muito bom e um modo história, o novo game da série também se destaca pelos elementos que vão “além do básico”. Entre eles está a volta do modo Tekken Ball, uma espécie de vôlei mais agressivo que muda as regras básicas do esporte.
Enquanto você ainda joga em arenas com linhas que limitam o espaço de atuação de cada time, aqui o objetivo não é fazer a bola cair no chão do inimigo. Ela deve ser vista como o instrumento de ataque de seu personagem, que precisa bater nela do jeito certo para causar o maior dano possível ao inimigo. E claro, você precisa ficar atento para também conseguir se defender.
O game também traz um sistema de personalização de personagens bastante completo, que permite que você dê a sua cara a seu lutador favorito nos modos online e offline. Embora ele não seja tão robusto quanto o visto em Tekken 7, a quantidade de opções disponíveis é bastante generosa e serve de estímulo para conferir as diferentes modalidades em busca de mais dinheiro e recompensas.
O game também traz um sistema de personalização de personagens bastante completo
Também é preciso mencionar a grande variedade de cenários do jogo, sendo que muitos deles trazem elementos destrutíveis que colaboram para a realização de combos mais complexos. A crítica nesse sentido fica pela questão da visibilidade, já que alguns trazem tantos efeitos e partículas que acaba sendo um pouco complicado acompanhar a ação.
A “cereja no topo do bolo” é o modo Jukebox de Tekken 8, que traz uma biblioteca quase completa de todas as principais canções da história da série. A seleção de músicas disponíveis é bastante vasta, e atinge em cheio a nostalgia de quem é fã dos jogos mais antigos graças à qualidade das composições que marcaram a série.
Vale a pena?
Em meio a todos os elogios aos sistemas de jogo e opções da sequência, fica até difícil se lembrar de mencionar o quanto ela é bonita. Embora não use todas soluções da Unreal Engine 5, o jogo tem visuais que representam um salto visível em relação a seu antecessor, além de trazer algumas das melhores animações do gênero.
Apesar de não ser perfeito, Tekken 8 é sem dúvida um dos melhores jogos de luta 3D disponíveis no mercado. Sabendo combinar acessibilidade a um sistema de luta profundo, o game abarca tanto quem é veterano e só quer saber de jogar online, quanto quem está dando os primeiros passos no gênero.
Com um modo história divertida, opções de treinamento completas (incluindo o Modo Fantasma, que permite lutar com NPCs que imitam adversários reais) e uma bela apresentação, o título traz tudo aquilo que se espera de um jogo título do gênero. Com o lançamento, a Bandai Namco cala seus críticos e mostra os motivos pelos quais a franquia conseguiu chegar aos 30 anos de idade sem perder a relevância.
Jogamos Tekken 8 no PC com uma chave fornecida pela Bandai Namco Brasil.
Prós
Combina bem acessibilidade com profundidade
Modo história focado e divertido
Online robusto e com bom netcode
Ótima seleção de personagens
Atende tanto a novatos quanto veteranos
Contras
Os lobbies online pecam pela falta de algumas opções
Alguns cenários poluídos dificultam a leitura das batalhas