Em São Paulo, há três grandes entusiastas da possível chapa entre o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (de saída do PSDB) para o Planalto em 2022: o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), o ex-governador Márcio França (PSB) e o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB).
Por motivos diferentes, os três pré-candidatos ao Palácio dos Bandeirantes veem na união —até pouco tempo atrás impensável— entre o petista e o tucano uma forma de crescerem na disputa. Por outro lado, aliados apontam que a chapa traz um ar de imprevisibilidade a uma disputa que está longe de ser definida.
É consenso entre petistas e alckmistas que a chapa surgiu como um balão de ensaio e aí passou a ser apreciada dos dois lados. Lula começou a elogiar publicamente o antigo oponente enquanto o ex-governador parou de negar a possibilidade a aliados, mostrando-se claramente interessado.
Alguns detalhes importantes ainda precisam ser firmados, como o partido em que Alckmin ingressará ao sair do PSDB. Em conflito velado com o governador João Doria (PSDB-SP), sua desfiliação já é esperada há alguns meses, mas ele decidiu ficar para votar nas prévias —que aconteceram no fim de semana passado.
Após flertes com o futuro União Brasil (fruto da soma entre DEM e PSL), a ida do ex-governador ao PSD de Gilberto Kassab era o caminho mais provável, mas a proposta de vice na chapa de Lula o atraiu e o PSB se tornou uma rota viável.
Haddad
Nacionalmente, a ideia já foi bem aceita no PT. Pesquisas internas mostram que Lula ganha de três a cinco pontos percentuais de intenções de voto no interior de São Paulo, reduto forte de Alckmin e ponto fraco do ex-presidente, quando a chapa é apresentada.
Embora haja constrangimento e até uma certa resistência de petistas paulistas que fizeram oposição a Alckmin nos seus quatro mandatos como governador, para Haddad a aliança uniria o útil ao agradável.
Aliados contam que os dois sempre tiveram bom relacionamento e o petista não teria problema algum em subir em um palanque junto ao tucano. Haddad está em segundo lugar nas pesquisas eleitorais para o governo paulista e tem feito um forte trabalho de base, rodando o interior, para tentar desanuviar o antipetismo ainda forte em parte do estado.
A saída de Alckmin da disputa ao Palácio dos Bandeirantes não só o deixaria como candidato principal, como poderia reverter em alguns votos já que o ex-governador participaria de sua campanha —Alckmin é famoso por tomar cafés em padarias simples e lembrar o nome dos donos.
O PT vê 2022 como a chance real de governar o estado em que nasceu pela primeira vez. Com a ajuda de Alckmin, o projeto ganha um empurrãozinho a mais.
França
Mas essa aliança PT-PSDB tem um entrave importante em São Paulo. Márcio França, vice de Alckmin entre 2015 e 2018, tem sido um dos principais entusiastas da ida do ex-governador ao pleito federal.
Pré-candidato assumido, ele diz que está esperando Alckmin se decidir para lançar sua candidatura, mas não esconde a vontade de que o parceiro concorra à vaga no Planalto.
Governador em 2018, quando o tucano concorreu à presidência, França chegou ao segundo turno contra Doria em uma derrota apertada —fato até hoje lembrado por ele. Com Alckmin em outra disputa, ele é visto como seu candidato natural, tanto que o próprio PSB tem condicionado a aliança nacional a um apoio petista no estado.
O problema é que a ideia de retirar a candidatura de Haddad não é nem considerada dentro do PT. Os petistas avaliam que a chapa seria democraticamente benéfica e positiva para a imagem do ex-presidente, mas argumentam que Lula ganhará de qualquer jeito —com ou sem o apoio de Alckmin.
Já França vê chance real de crescimento no interior antipetista que também se desiludiu com Doria. Crítico ferrenho do atual governador, ele tem se portado como uma “terceira via paulista”, dizem interlocutores —um candidato próximo das realizações do PSDB no passado, mas não tão próximo assim; com um ar mais progressista, mas não tão progressista assim.
Garcia
Por fim, o movimento do quase ex-tucano é acompanhado e ansiado também do lado de dentro do Palácio dos Bandeirantes. Rodrigo Garcia, que ocupou três secretarias de Alckmin e sempre esteve ao seu lado, foi um capítulo importante do encerramento da relação entre o ex-governador e o PSDB.
Figura tradicional do DEM desde que se chamava PFL, Garcia filiou-se ao PSDB em maio por interlocução de Doria, que, de olho no Planalto, o alçou como sucessor ao governo paulista.
A Alckmin, que se considerava o postulante natural, foi oferecida uma candidatura à Câmara dos Deputados, o que deixou o ex-governador furioso, e a relação entre os dois, estremecida desde o BolsoDoria, fissurou-se de vez.
Com Alckmin na disputa, doristas já falam em roubar alguns votos por meio do uso da máquina —Garcia deverá assumir o estado a partir de abril, com Doria focado na disputa presidencial.
O PSDB paulista tem trabalhado o vice-governador em uma imagem semelhante à de Alckmin para angariar votos no interior: um político técnico, sério, tradicional e religioso. Sua saída da disputa é a chance de Garcia crescer definitivamente entre este eleitorado e reverter o fraquíssimo desempenho nas pesquisas.
À espera de Alckmin
Falta combinar com Alckmin. Ele, que já tinha declarado sua saída do PSDB, chegou a reavaliar a questão com a possibilidade de vitória do governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, nas prévias do partido.
Agora —que Doria venceu—, ele volta ao impasse e não revela nem aos aliados mais próximos qual será seu futuro.
Para apoiadores, esta indecisão pode ser um ponto negativo para o ex-governador caso ele decida ficar na disputa estadual. Aliados do interior dizem que, quanto mais ele deixa seu nome correr ao lado de Lula, mais votos ele perde entre o eleitorado conservador, caso desista.