O túnel subaquático que ligará Santos a Guarujá, no litoral de São Paulo, será o primeiro do tipo na América do Sul e contará ainda com ciclovia, passagem para pedestres e até um Veículo Leve Sob Trilhos (VLT). Mas como é possível fazer uma obra dessa magnitude no fundo do oceano?
De acordo com o anúncio feito na última semana, o túnel deve ter cerca de 21 metros de profundidade, já que vai passar por baixo do canal do Porto de Santos. Além disso, durante toda a construção o fluxo de navios não deve ser interrompido. Esses são apenas alguns dos detalhes desafiadores desse túnel.
Em entrevista ao Olhar Digital News, Marcelus Magno Araujo Rodrigues, professor de Engenharia Civil da UNISUAM e M.Sc, garantiu que esse tipo de construção é totalmente segura e que os métodos já foram empregados em outros lugares do mundo.
“A tecnologia para construção de túneis submersos é completamente consolidada e dominada”, explica o professor. “Além disso, a engenharia brasileira é reconhecida mundialmente como umas das melhores do mundo. Os cidadãos que vão usufruir desta importante obra podem ficar tranquilos quando forem atravessá-lo”.
Para viabilizar a obra, serão construídos seis módulos pré-moldados com concreto armado, que vão precisar ser transportados até o local. Isso tudo sem interromper o fluxo de navios no porto de santos. Ao todo, o túnel deve ter cerca de 850 metros.
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O engenheiro explica como o método funciona. “As seções do túnel ( módulos) são construídas fora do local da obra. Tais módulos são transportados para o local do túnel e submergidos aos poucos, de forma a encaixarem-se, formando então o túnel”, disse. “Todo o processo é feito de forma que os módulos não sejam inundados ( são vedados hermeticamente por comportas). São perfeitamente encaixados, alinhados e presos um no outro. Depois, basta retirar as comportas e finalizar a obra”, completou.
Construção de túnel tem outros exemplos no mundo
O método se assemelha com o usado no Eurotúnel, que cruza o canal da Mancha ligando a França e o Reino Unido, mas em uma escala muito menor. A megaestrutura é composta por três túneis paralelos entre si, cada um com 50 km de extensão, perfurados a uma média de 40 m abaixo do fundo do mar.
Há vários exemplos pelo mundo, porém o mais famoso de todos é o túnel sob o canal da mancha, ligando a Inglaterra à França. A ASCE, Sociedade de Engenheiros Civis Americanos, considera essa obra como uma das 7 maravilhas da engenharia.
Marcelus Magno Araujo Rodrigues, professor de Engenharia Civil da UNISUAM e M.Sc
O trem de passageiros Eurostar e o Le Shuttle – que transporta carros, caminhões, ônibus e motos – usam os dois túneis externos. A ventilação e o acesso profissional acontecem por meio do túnel de serviço central, que é mais estreito.
Os dois túneis utilitários têm 7,6 m de diâmetro e 30 m de distância. Cada um é de via única, linha elétrica aérea (catenária) e duas passarelas (uma para fins de manutenção e outra no lado mais próximo do túnel de serviço para uso em caso de evacuação de emergência). Essas passarelas também servem para manter o trem em pé e em linha reta de deslocamento, no caso (improvável) de um descarrilamento.
No caso do de Santos, apesar do anúncio ter vindo agora, essa obra já é discutida há cerca de 100 anos e passou por inúmeras reformulações ao longo do tempo. A construção será resultado de uma parceria público-privada (PPP) e tem custo estimado em R$ 5,9 bilhões.