Furacão do carnaval! Viradouro ‘passa por cima’ da chuva e faz último ensaio de rua com garra e força no canto

Um raio atravessou o céu de Niterói logo no momento em que Wander Pires entoava pela primeira vez no domingo o “Arroboboi meu pai, arroboboi Dangbê”. Parecia um aviso da força e da potência com que a Viradouro ia fazer o seu último ensaio na Avenida Amaral Peixoto, no Centro de Niterói, neste pré-carnaval de 2024. Semana que vem a Viradouro estará no ensaio técnico na Sapucaí e na outra já vai ser para valer. A tempestade, para o bem, não chegou com mais raios do que aquele primeiro, garantindo que o ensaio pudesse continuar. Já a chuva foi constante durante todo o teste, na maioria do tempo sendo moderada, o que já incomodaria bastante o componente. Mas não a comunidade da Vermelha e Branca do Barreto. O canto, mais uma vez, foi muito forte, assim como a evolução. Os outros quesitos tiveram excelência e, o principal, a escola mostrou a organização de sempre e superou a chuva apresentando tudo aquilo que planejou para o ensaio. O samba foi a mola propulsora do treino e esteve na boca não só dos foliões como de quem assistia nas laterais. Os diretores de carnaval da Viradouro, Alex Fab e Dudu Falcão, consideram que a escola chegou a este momento em um estágio de rendimento dos componentes e segmentos dentro do planejado e que agora é ir para o ensaio técnico e posteriormente desfile com tudo aquilo que foi ensaiado e preparado.

Fotos: Lucas Santos/Divulgação

“A gente vem trabalhando ao longo destes meses, a direção de carnaval, eu e Dudu, toda a direção de harmonia, todos os componentes de uma forma geral, viemos trabalhando para chegar no ápice do processo nestas duas semanas que restam. Na semana do ensaio técnico e consequentemente, a gente faz o ensaio técnico agora por mérito, por ter chegado no vice-campeonato. E logo na semana seguinte nós temos o grande dia. A gente vem em uma crescente e acho que vamos para domingo no ensaio técnico com os olhos bem atentos, espertos para os detalhes que a gente sempre pode melhorar. Mas a gente acredita que alcançamos o patamar que a gente estabeleceu para esse processo, para esses últimos ensaios. Agora é seguir trabalhando nas próximas duas semanas”, esclarece Alex Fab.

“É um método que já estamos há 7 anos fazendo. A comunidade ajuda, todos os envolvidos no projeto ajudam. Nós fazemos um planejamento para chegar aqui perto do ápice, mas o ápice, a grande excelência é justamente essas duas semanas em que teremos o ensaio técnico que é muito importante para avaliar tudo que fizemos até aqui e transformar no que chamam de nota máxima no desfile oficial e para o nosso trabalho, para o nosso projeto é entender que fizemos tudo da melhor maneira possível para poder atingir o melhor resultado para a escola”, entende Dudu Falcão.

Em 2024, a Unidos do Viradouro será a sexta e última escola a passar pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de carnaval, dia 12 de fevereiro, encerrando os desfiles do Grupo Especial. A agremiação levará para a avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé”, sobre a energia do culto ao vodun serpente, que será desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, em seu segundo carnaval solo na Vermelha e Branca.

Comissão de Frente

Sempre entusiastas de grandes surpresas e grandes transformações, o casal Priscila Mota e Rodrigo Negri trouxe para este ensaio os dois elencos que vão fazer parte desta comissão. Além disso, uma corda marcava o espaço do elemento alegórico que deve ser usado na apresentação. Na coreografia muito vigor e uma pitada bem significativa de encantaria. Nos bailarinos muitas vezes era fácil ver os traços e movimentos da serpente.

Um bom equilíbrio nas coreografias de apresentação para o módulo de julgadores e as coreografias de deslocamento. A troca de elenco também se deu de forma bem natural. A chuva não atrapalhou e os bailarinos não mostraram receio na hora de ir se deslocando pelo chão encharcado e pelas poças enormes. Muita sincronia nos movimentos e principalmente em algumas partes mais dançadas, também quando os componentes se aproximavam e avançavam como em falange.

Mestre-sala e Porta-bandeira

A dupla tem trabalhado bastante para surpreender o público. Julinho e Rute Alves trajavam uma vestimenta, neste ensaio, que trazia um colorido e algumas cores mais cítricas. Julinho abusou do laranja e Rute tinha em seu vestido uma mistura de cores. O casal vai apostar em uma coreografia com muito vigor, como perde o enredo, mas tomando o cuidado para não se perder toda a singeleza do bailado do casal. Durante o treino deste domingo, a dupla realizou potente dança e apresentação, abusando de giros muito intensos, com bastante entrosamento nos movimentos e com elementos que pontuavam a letra do samba-enredo da Viradouro.

Em um momento de grande ápice, a dupla girava cada um em seu eixo de forma bastante veloz, mas com muita técnica. Outro ponto alto, foi em um momento mais coreográfico, em que o casal executava passos de danças referentes à religião de matriz africana, bem pertinente à temática do enredo. Uma grande exibição, ainda deixando um gostinho de que tem mais coisa boa por vir.

Harmonia

O componente da Viradouro já vem cantando o samba com muita força há um bom tempo. A questão era saber o quanto a chuva constante deste domingo ia atrapalhar e deixar o folião mais contido. A resposta é que a comunidade ligou muito pouco para a chuva. Até as capas eram raras, o componente encarou a água que via do céu como combustível para cantar ainda mais o samba.

Desempenho do canto com constância, força e correção. Muitas vezes você via no olhar a potência do enredo, a vontade com que o desfilantes mostrava que estava bem entrosado com o tema que pede um um pouco desse vigor mesmo. Em relação ao carro de som, Wander mostrou ter dominado completamente o samba achando o equilíbrio entre a força e potência que a obra pede, e as suas características mais melódicas, fazendo uma grande apresentação acompanhado pelas vozes de apoio e ancorado no apoio a todo o momento do diretor musical Hugo Bruno. O diretor geral de harmonia, Jefferson Coutinho, fez uma avaliação positiva do trabalho até aqui.

“Fizemos aqui hoje o nosso último ensaio de rua certos de que o trabalho que nos propusemos a fazer chega nesse dia 28 de janeiro da forma como gostaríamos. Logicamente sempre tem um ou outro acerto. Semana que vem é ensaio na Sapucaí. Mas, a gente consegue enxergar uma escola alegre, que não tem chuva, que não tem qualquer tipo de intempérie que afete o rendimento. Você pode ver hoje mais um ensaio com muito canto, muita evolução e agora é domingo que vem e dia 12 a gente quer coroar todo o esforço que foi feito até agora”.

Evolução

Com responsabilidade em uma pista que tinha alguns trechos encharcados, até porque semana que vem tem ensaio técnico e faltam 15 dias para o desfile oficial, o folião velho e branco mostrou a espontaneidade de sempre e a escola a organização de sempre. A evolução se deu com fluência, mas cadenciada, sem correria para que cada parte do desfile tivesse a ênfase necessária na sua apresentação.

Pode-se perceber uma bonita ala coreografada de mulheres com bastões que tem uma grande chance de estarem representando as guerreiras Minô. A escola fez o ensaio em cerca de uma hora e pouco, não apresentando buracos e nem alas se embolando. Também não houve correria em nenhum momento, e os momentos em que a escola ficou um pouco mais parada por conta de apresentações de comissão de frente, primeiro casal e bateria, a todo momento os demais componentes se mantinham em movimento, com energia e cantando a obra.

Samba-enredo

O samba desde a escolha sempre foi apontado como um dos melhores dessa safra. Mas, é claro, que havia o que se trabalhar na obra de achar o melhor andamento para Wander e bateria, o melhor arranjo para valorizar as características do intérprete e impulsionar o canto do componente. Chegando ao último ensaio na Avenida Amaral Peixoto ficou claro que o trabalho de harmonia, carro de som, bateria e toda diretoria resultou em uma obra que não só tem recebido elogios de gente de fora da Viradouro como está bastante acertada com aquilo que a agremiação quer levar para o seu desfile, seja em força, vigor, potência, melodia, andamento. E o principal está na boca da comunidade. Destaque para a potência dos refrãos tanto do meio, como de baixo, muito dançantes inclusive e do pré “Ê alafiou” e em termos de melodia para a segunda parte da obra, principalmente a partir do primeiro verso “vive em mim…”. A Furacão Vermelha e Branca também fez sua colaboração com a obra com bossas bastante relacionadas à temática.

Outros destaques

A rainha Erika Januza também não fugiu da rainha e fez pouco da chuva. A bela trouxe um modelito produzido pelas artesãs Marina e Elisa Guajajara, mostrou o samba no pé de sempre, apresentou a bateria nos pontos que simulavam os módulos de julgamento, dançou muito com as bossas, mostrando grande desenvoltura e fez sucesso como sempre com o público nas laterais que a chamavam e soltavam “gritinhos” quando ela acenava e dava atenção.

A bateria, de mestre Ciça, apresentou suas bossas com muita africanidade e características musicais de tom religioso, além de fazer coreografia em uma delas abaixando. No esquenta, Wander cantou, entre outros, o samba de 2019 que garantiu um vice-campeonato logo no retorno ao Grupo Especial com o “O Brilho no olhar voltou”, além da obra do carnaval passado. O presidente de honra Marcelo Calil inflamou os componentes em seu discurso antes do ensaio ao pedir para eles irem buscar o décimo que faltou em 2024 para que a escola fosse campeã.


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