Deixando de lado o debate sobre se Wittgenstein estava certo ou errado, alguns pesquisadores afirmam que é justamente essa ideia de significado humano que leva cientistas e não cientistas a projetarem significados nos sons de animais.
Por exemplo, quando cientistas de Berlim descobriram que ratos “riem” quando sentem cócegas, observadores declararam que os ratos têm senso de humor.
Os cientistas reagiram, argumentando que interpretar os chilreios de alta frequência dos ratos como humor, ou até mesmo como riso, seria uma forma de antropomorfização, ou seja, a tendência de “humanizar” animais ou até mesmo objetos, como robôs. Como saber se os ratos acharam “graça” das cócegas? Não tem como saber, afirmam cientistas. Não é possível ler a mente de um rato.
Por outro lado, alguns especialistas argumentam que muitas vezes os humanos subestimam as capacidades dos animais. Em consequência, veem-se cada vez mais estudos alegando descobertas “inéditas”, como peixes que sentem dor, polvos inteligentes ou ratos que riem.
Muitos donos de papagaio dirão que Wittgenstein estava errado: que os sons de seu animal podem significar que ele está com dor ou com fome, por exemplo. A ciência evoluiu desde os escritos do filósofo austríaco no início do século 20. Mas, para Coffey, um certo grau de antropomorfização não é de todo mau, pois ajuda os humanos a se conectarem com o mundo animal.
“Os camundongos fazem canções estruturadas com muitas sílabas. Elas são muito mais complicadas quando os machos estão chamando as fêmeas do que quando os machos estão falando sozinhos. Sempre achei isso bonito. Mas é bom que os acadêmicos continuem cautelosos em relação à comunicação e à linguagem. Provavelmente nunca contaremos aos ratos e golfinhos sobre esportes eletrônicos ou inflação”, diz o neurocientista.