Juros futuros caem diante do risco de desaceleração global com nova variante da Covid

Em uma sessão de maior aversão ao risco, provocada pelo avanço de uma nova cepa do coronavírus, com forte queda das ações na Bolsa de Valores, o mercado de juros futuros também recua nesta sexta-feira (26).

Por volta das 13h, o contrato de juros futuros com vencimento para 2023 recuava de 12,09% na véspera para 11,87%, enquanto os papéis para 2027 cediam de 11,81% para 11,74%, de acordo com dados da Bloomberg.

Segundo Paulo Nepomuceno, estrategista de renda fixa da Terra Investimentos, a queda se deve à expectativa do mercado de que um novo repique da Covid-19 afete negativamente o ritmo de recuperação da atividade econômica.

Esse novo cenário poderia, inclusive, tirar a pressão sobre o BC (Banco Central) no Brasil, pois abriria espaço para que a alta da Selic, a taxa básica de juros do país, ocorresse em ritmo mais lento do que o adotado atualmente.

“Um crescimento menor demanda um ritmo mais lento de aperto da política monetária por parte dos bancos centrais”, afirma Nepomuceno. “Já temos visto que na Europa a contaminação voltou a aumentar bastante.”

Pouco se sabe ainda sobre a nova variante, detectada na África do Sul, em Botswana e em Hong Kong, mas cientistas dizem que ela tem uma combinação atípica de mutações, que pode ser capaz de evitar respostas imunológicas e que seria mais transmissível.

O mercado acionário europeu já estava sob estresse nesta semana uma vez que o ressurgimento de casos de Covid-19 levou a novas restrições em vários países da região.

“Por conta do risco de desaceleração da economia trazido pela nova variante do coronavírus, o mercado também está devolvendo parte de uma alta antecipada dos juros nos Estados Unidos, o que acaba contribuindo para a queda dos juros futuros no mercado local”, afirma Rodrigo Crespi, especialista de mercado da Guide Investimentos.

Nepomuceno, da Terra, acrescenta que também contribui para o fechamento de taxas sinalizações transmitidas junto ao mercado pelo presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, de que a autoridade monetária estaria considerando os prêmios da curva excessivamente esticados.

Campos Neto afirmou nesta semana que, embora a média do desempenho da atividade econômica entre 2020 e 2022 deva ser melhor que o previsto, o crescimento estrutural do Brasil começa a preocupar.

“Quando você olha o combinado 2020, 2021 e 2022, a média é melhor [que o previsto], mas começa a preocupar sobre qual é o crescimento estrutural no Brasil e como podemos melhorar isso”, afirmou em evento do Bank of America na quarta-feira (24).

O titular do BC reafirmou que a autarquia deve revisar para baixo sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) do próximo ano, hoje em 2,1%. A nova estimativa deve ser publicada no próximo relatório trimestral de inflação, em 16 de dezembro.

Nas últimas semanas, analistas e instituições financeiras revisaram para baixo as expectativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2022. Segundo o boletim Focus desta semana, em que o Banco Central divulga projeções do mercado, economistas esperam crescimento de 0,70%. Há uma semana, a projeção era 0,93%, e há quatro semanas, 1,40%.


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