Decorridas quase 48 horas desde o fiasco em que se converteu a eleição interna que deveria escolher um presidenciável tucano, o PSDB ainda não conseguiu marcar a data para o encerramento tardio de suas prévias. Mas a situação do partido evolui rapidamente. O vexame de domingo potencializou a divisão do tucanato. Desde então, o tucanato vive um processo de autocombustão.
Enquanto rala para resolver a pane no aplicativo de votação, o PSDB convive com uma guerra fratricida que faz ferver o seu sistema operacional. O governador gaúcho Eduardo Leite passou a questionar a legitimidade das prévias; contestou uma nota oficial em que o presidente do partido, Bruno Araújo, esticou até domingo o prazo para a conclusão da disputa; e acusou seu principal concorrente, o governador paulista João Doria, de comprar votos. Doria endossou a nota de Bruno Araújo. E seus operadores tratam Leite como “mau perdedor.”
Arthur Virgílio, que participa das prévias no papel de azarão, arrancou das sombras um dos protagonistas do incêndio tucano: Aécio Neves. Chamou o deputado mineiro, apoiador de Eduardo Leite, de “maçã podre”. Acusou-o de tramar contra as prévias, para transformar o PSDB num “partido do tipo centrão”, a serviço da reeleição de Bolsonaro. Em resposta, Aécio chamou Virgilio de “laranja do Doria”.
A plateia vinha observando o PSDB à espera do fato que justificaria o uso do ponto de exclamação que se escuta quando as pessoas dizem “não é possível!” Todos os sinais já foram dados. A autocombustão iniciada com as prévias ficará gravada no enredo da tragicomédia da chamada terceira via, aglomerado com muitas cabeças e poucos miolos, como um marco da derrocada dos tucanos.
De agora em diante, tudo é epílogo para o PSDB na sucessão de 2022. O vencedor das prévias vai levar não um partido, mas um punhado de cinzas.