Adora painel multimídia no carro? É tão perigoso quanto celular ao volante

A central multimídia, aquele painel usado nos carros para ouvir música, exibir mapas com rotas e auxiliar em ligações, pode ser um vilão do trânsito pela distração do motorista que ela pode provocar.

De acordo com um estudo da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), um condutor que pesquisa um endereço na central multimídia por três segundos é capaz de se deslocar 36 metros sem atenção ao volante e ao que está acontecendo na pista se estiver a uma velocidade de 40 km/h.

Segundo o Sistema de Informação da Policia Rodoviária Federal, entre 2007 a 2016, ocorreram mais de 6.000 acidentes com vítimas nas rodovias federais brasileiras, sendo 30,2% por falha de atenção ao conduzir. Essa desatenção pode ter sido provocada por motoristas alcoolizados, direção em alta velocidade, ultrapassagens perigosas, uso do celular e/ou da central de multimídia.

Estudos científicos já mostraram o cérebro tem uma capacidade finita de dividir a atenção. Por isso, a falta de foco ao dirigir é um grave fator de risco para acidentes de trânsito.

“Trabalhos de ressonância magnética demonstram que, quando se faz duas ou três tarefas ao mesmo tempo, em vez de aumentar a capacidade do cérebro, diminui. As tarefas serão executadas com mais dificuldade. Quem dirige usando centrais multimídia tem as duas funções dificultadas”, diz Flávio Emir Adura, diretor científico da Abramet, a Tilt.

Tecnologias que ajudam e atrapalham

Uma das grandes preocupações em acidentes de trânsito é o uso de celular por motoristas enquanto eles dirigiram. Digitar o endereço no GPS, escrever mensagens, atender ligações. Situações que parecem simples no cotidiano são práticas que devem ser evitadas para proteger motoristas e passageiros, defende a Abramet.

Dados da Administração Nacional de Segurança Rodoviária dos Estados Unidos (NHTSA, na sigla em inglês), por exemplo, mostram que, ao escrever mensagens por 2,5 segundos em uma velocidade de 100 km/h, o condutor dirige por 69 metros sem ter a real dimensão de seu deslocamento e/ou se cometeu alguma infração.

A central multimídia segue essa mesma lógica e pode causar prejuízos por dividir a atenção do condutor entre a tela e a direção, alerta Adura.

Tentar executar duas tarefas ao mesmo tempo não é sinônimo de eficiência. Segundo um artigo publicado pela revista Harvard Business Review, uma pessoa gasta, em média, 15 minutos para voltar ao que estava fazendo após ser interrompida. Além disso, a produtividade pode cair até 40% quando um profissional tenta ser multitarefa.

Para Adura, conscientizar a população é uma peça-chave para reduzir os sinistros no trânsito por falta de atenção. É importante, segundo ele, que a população tenha noção dos perigos e evite se colocar em risco.

Central multimídia e regras de trânsito

Segundo o Código de Trânsito, por exemplo, o artigo 28 da Normas de Circulação diz que o “condutor deverá a todo momento ter domínio do seu veículo, dirigir com atenção, podendo penalizar com infração leve (multa) quem não seguir essa orientação”.

De acordo com a resolução nº 24 da CNT (Confederação Nacional do Transporte) dispositivos com imagens, como as TVs, devem ser instalados apenas nos bancos traseiros dos veículos.

Sobre a regulamentação das centrais de multimídia no Brasil, Adura acredita que as regras existentes são genéricas em termos da proteção do condutor e dos passageiros. “Como avaliar se o motorista está dirigindo com cuidado ou não?”, diz.

Ao mesmo tempo, para Cezar Eduardo March, advogado do escritório Simões March e Araujo, a criação de leis específicas que impeçam a instalação desse tipo de tecnologia em veículos seria um atraso.

O advogado acredita que ter uma legislação restritiva pode gerar problemas, porque o motorista buscará uma alternativa para substituir as funcionalidades do aparelho, que no caso pode muito bem ser o celular — que não custa lembrar: a recomendação é que o aparelho não seja utilizado pelo motorista com o carro em movimento.

No caso das regras que já existem referente à central multimídia, a fiscalização poderia ser mais eficiente, segundo o advogado.


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