Alemanha enfrenta "emergência nacional" de covid-19, diz ministro

Alemanha enfrenta “emergência nacional” de covid-19, diz ministro – Ministro da Saúde alerta para piora da pandemia no país e não descarta imposição de um novo lockdown. Quarta onda elevou as infecções a níveis recordes, e vários hospitais estão à beira do colapso, dizem autoridades.O ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, afirmou que a situação da covid-19 piorou na última semana e agora está ainda “mais séria do que na semana passada”, alertando que o país enfrenta “uma emergência nacional” em relação à pandemia.

Questionado sobre a possibilidade de o governo impor um novo lockdown a toda a população, ele respondeu: “Estamos em uma situação na qual não podemos descartar nada.”

As declarações nesta sexta-feira (19/11) vêm no dia em que a câmara alta do Parlamento alemão, o Bundesrat, aprovou um novo pacote contra a pandemia elaborado pela provável futura coalizão governamental, um dia depois de a câmara baixa ter dado luz verde às regras.

A lei inclui medidas como a obrigatoriedade de apresentação do certificado de vacinação ou teste negativo no trabalho e em transportes públicos, assim como a recomendação expressa para a prática de home office, sempre que possível.

Spahn falava em uma coletiva de imprensa ao lado de Lothar Wieler, chefe da agência governamental de controle e prevenção de doenças, o Instituto Robert Koch (RKI).

Wieler também pintou um quadro dramático da situação da covid-19, apontando que mais de um quarto dos distritos do país apresenta uma taxa de incidência maior que 500 novas infecções por 100 mil habitantes nos últimos sete dias, e que muitos hospitais estão à beira do colapso. “Precisamos virar a maré. Realmente não temos tempo a perder.”

O chefe do RKI ainda destacou a importância da vacinação, num momento em que a Alemanha apresenta uma das menores taxas de vacinação da Europa Ocidental. “As vacinações estão funcionando muito, muito bem”, disse. “Precisamos fechar as lacunas de vacinação agora.”

Qual é a situação da covid-19 na Alemanha?

Nas últimas duas semanas, o número de novos casos aumentou mais de 60% na Alemanha.

Nesta sexta-feira, o país registrou 52.970 novas infecções em 24 horas, um dia depois de registrar mais de 65.000 casos diários, um recorde desde o início da pandemia. Autoridades de saúde alertam que esse número deve pelo menos dobrar nos próximos dias.

Uwe Janssens, secretário-geral da Sociedade Alemã de Cuidados Intensivos Internos, afirmou à DW que as cifras são “absolutamente preocupantes”. Ele ressaltou que os pacientes infectados que adoecem gravemente acabam na unidade de terapia intensiva (UTI) muito mais tarde, “com um atraso de até 15 dias”.

“Atualmente, cerca de 0,8% das pessoas infectadas terão que ser tratadas em uma unidade de terapia intensiva durante o curso de uma infecção”, afirmou Janssens. E se há de 50.000 a 60.000 novos casos todos os dias, “pode-se contar quantas pessoas chegarão às UTIs em 7, 10 ou 12 dias”. A situação está se tornando “muito difícil de lidar”, alertou.

Quais são as novas regras?

Pelas novas regras, a chamada incidência de hospitalizações será a nova referência para a introdução de regulamentações mais rígidas contra a covid-19 no país.

De acordo com essa métrica, se mais de três pessoas por 100.000 habitantes em uma região estiverem hospitalizadas com a doença, a regra 2G – que permite liberdades como acesso a restaurantes e hotéis apenas para aqueles que são vacinados ou recuperados da covid-19 – será aplicada a todas as atividades de lazer públicas.

Se a taxa de hospitalizações atingir seis por 100.000 habitantes, será adotada então a regra 2G+, quando mesmo as pessoas vacinadas e recuperadas serão obrigadas a apresentar adicionalmente um teste negativo para o coronavírus. Com uma taxa de nove hospitalizações, medidas mais rígidas, como restrições de contato, entrarão em vigor.

No momento, todos os estados alemães com exceção de Hamburgo, Baixa Saxônia, Schleswig-Holstein e Sarre apresentam taxa de internações maior que três. Já o índice na Turíngia e Saxônia-Anhalt está acima de nove.

O que mais foi acordado?

Os planos incluem ainda testes diários obrigatórios para funcionários e visitantes de lares de idosos, independentemente de terem sido vacinados ou não.

Eles também incluem a regra 3G – que exige a apresentação de um comprovante de vacinação, recuperação ou teste negativo – para locais de trabalho e transporte público.

Os testes rápidos de antígenos também voltam a ser gratuitos. E a recomendação expressa para a prática de home office, sempre que possível, será restabelecida. Enfermeiros, especialmente aqueles que trabalham em unidades de terapia intensiva, receberão um bônus.

Os 16 estados da Alemanha ainda poderão manter e introduzir medidas de proteção. Isso inclui restringir ou proibir eventos recreativos, culturais e esportivos, proibir a entrada em instituições de saúde e a venda e consumo de álcool em locais públicos, bem como fechar universidades.

As medidas, que devem entrar em vigor já na próxima semana, não incluem o fechamento de escolas, restrições gerais a viagens ou vacinação obrigatória.

Um novo lockdown à vista?

Para a legisladora alemã do Partido Verde e médica Paula Piechotta, o país só deveria introduzir um lockdown geral como uma “medida de último recurso”. Contudo, a Alemanha já está muito perto dessa etapa, afirmou ela em entrevista à DW. “Se muitos legisladores e tomadores de decisão não agirem, um bloqueio geral será necessário.”

Piechotta também alertou sobre os baixos níveis de confiança nas vacinas na Alemanha e na Europa.

“Se não conseguirmos atingir taxas de vacinação suficientes de maneira não obrigatória, teremos que conversar sobre a obrigatoriedade da vacina, especialmente para quem trabalha em ambientes vulneráveis, como lares de idosos e hospitais”, afirmou a parlamentar. Para ela, tornar a vacinação compulsória seria menos perturbador do que impor outro lockdown geral.

Aposta em doses de reforço

Enquanto isso, a Comissão Permanente de Vacinação da Alemanha (Stiko) recomendou na quinta-feira a aplicação de doses de reforço para toda a população acima de 18 anos. A injeção deve ser administrada seis meses após a última aplicação da vacina, mas o intervalo pode ser reduzido para cinco meses se houver capacidade suficiente.

O comitê recomenda que as vacinas de reforço sejam priorizadas para imunossuprimidos, idosos com mais de 70 anos, residentes e funcionários de lares de idosos e profissionais que trabalhem em instalações de saúde.

Independentemente de qual imunizante foi administrado anteriormente, as vacinas de mRNA – como as da Pfizer e a da Moderna – devem ser aplicadas como doses de reforço. Mulheres grávidas após o segundo trimestre também devem receber injeções de reforço.

A taxa de vacinação na Alemanha estagnou em menos de 70% da população nas últimas semanas, um número relativamente baixo em comparação com outros países da Europa Ocidental.

“Temos que intensificar ao máximo as vacinações, mas acima de tudo, o reforço da vacinação”, afirmou Janssens, da Sociedade Alemã de Cuidados Intensivos Internos.

ek (DW, AP, AFP, Reuters, DPA)


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