'Acham que sou louco': brasileiros contam por que escanearam íris em troca de criptomoedas em projeto do criador do ChatGPT


Entusiastas de moedas digitais dizem que nem todos entendem a decisão de se inscrever na Worldcoin. Iniciativa diz que quer diferenciar humanos de inteligência artificial e que, para isso, precisa escanear a íris de toda a população mundial. Empresa quer escanear a íris de toda a população mundial para coletar dados
A Worldcoin, liderada pelo chefão do ChatGPT, diz já ter registrado mais de 2,2 milhões de pessoas em uma iniciativa que tem como meta escanear a íris de toda a população mundial. Mas o que faz alguém entregar algo tão pessoal para uma empresa?
A resposta não é apenas ‘dinheiro’. Apesar de receberem criptomoedas que podem ser convertidas em real, dois participantes ouvidos pelo g1 dizem que o interesse vai além do lucro. E revelam que não são compreendidos por todos ao seu redor.
“Contei para os meus pais e os meus irmãos, e eles acham que sou louco, que não dá para ganhar dinheiro com criptomoedas, pediram para eu esquecer isso. Mas, dos meus amigos, tem três que foram se cadastrar e receber os tokens”, conta Diego Sales, que inscreveu em 24 de julho.
A situação de Junior Waldorf, que escaneou a íris em 27 de julho, é parecida. “Estou explicando para as pessoas do que se trata. Elas ficam um pouco chocadas, gera um certo estranhamento. Mas acho que é questão de tempo para entenderem essas novas tecnologias”, diz.
O escaneamento da íris cria um “passaporte digital” que, segundo a Worldcoin, permitirá identificar pessoas e diferenciá-las de robôs de inteligência artificial. A organização diz ainda que os registros poderão ser usados na criação de uma renda básica universal.
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Governos em alerta
Órgãos reguladores de dados na França, na Alemanha, no Reino Unido e na Argentina analisam a iniciativa. No Quênia, o governo interrompeu o projeto. No Brasil, a Worldcoin chegou a suspender o atendimento por escolha própria, mas eles foram retomados.
A coleta da íris levanta questões sobre privacidade. A Worldcoin alega que as imagens dos usuários são convertidas em uma sequência numérica e apagadas em seguida. Mas especialistas apontam que esta sequência funciona como um dado biométrico, que é considerado sensível.
“Não é nem relação ao dinheiro [que me cadastrei], é mais sobre o projeto, que é bem ousado. Praticamente você está vendendo os seus dados para uma empresa. Isso é meio fora do normal, mas eu acredito na proposta”, admite Diego.
“A gente deve ter confiança nas empresas para as quais cedemos qualquer informação. Eu confiei que a imagem [da íris] é apagada. Mas, sendo bem prático, os nossos dados biométricos já estão por aí em todo lugar”, avalia Junior.
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Diego Sales e Junior Waldorf, inscritos no sistema da Worldcoin
Arquivo pessoal
Sem filas
Os dois usuários afirmam que não enfrentaram filas e que levaram menos de cinco minutos para se cadastrarem. Tudo o que precisaram fazer foi posicionar o rosto em frente à Orb, como é conhecida a câmera, e indicar a conta que tinham criado no aplicativo World App.
Os “depósitos” na conta começam em seguida. Diego e Junior ganharam 25 WLD (sigla da moeda da Worldcoin) logo depois do cadastro. Depois, novos valores caíram na conta em intervalos de 7 ou 14 dias.
Diego diz que acumulou 50 WLD, que são avaliadas em cerca de R$ 350 na cotação de 24 de agosto. Junior, por sua vez, conta que tem 39 WLD, que valem em torno de R$ 270.
As cifras poderiam ser maiores: a Worldcoin registrou cerca de 36% de desvalorização entre 24 de julho e 24 de agosto.
Mas Diego e Junior dizem que não estão preocupados com o recuo neste momento e acreditam que a criptomoeda voltará a se valorizar em breve.
“Essa desvalorização não impede que o projeto seja bem-sucedido. E, quanto mais segurar, mais a moeda sobe. Se todo mundo vender de uma só vez, ela vai a zero”, avalia Diego.
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Dispositivo usado para criar ‘passaporte digital’ da Worldcoin
Reuters/Annegret Hilse
Efeito bitcoin?
Ainda que se interessem pela proposta da Worldcoin de criar um meio seguro de distinguir humanos de robôs, os usuários ouvidos pelo g1 afirmam que acompanham com frequência as movimentações no valor da criptomoeda.
Entre os primeiros inscritos no país, eles entendem que poderão aproveitar uma eventual valorização da moeda. A expectativa é de que aconteça algo parecido com o bitcoin, que hoje é vendido por mais de R$ 120 mil, o que “premiou” investidores mais antigos.
“Eu sou inteirado em bitcoin e ether [as criptomoedas mais populares do mundo]. Mas como elas já foram lançadas há um tempo e têm bastante credibilidade, estão muito caras. Foi quando apareceu o Worldcoin”, diz Junior.
Ele afirma que ainda não vendeu nenhum token. “Quero esperar um pouco mais e ver como é que está a questão no mercado. Estou deixando ali para observar”.
Outro entusiasta de criptomoedas, Diego diz que começou a estudar sobre o assunto no início da pandemia. Ele afirma que vendeu cerca de um terço do valor que recebeu do projeto.
“Eu gosto de testar tudo. Como a Worldcoin está em uma camada da rede Ethereum [que permite negociar ativos digitais], enviei os tokens para uma corretora de criptomoedas. De lá, transformei em real e fiz um PIX para a minha conta corrente. Deu tudo certo”.
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World App, é usado para fazer transações com a criptomoeda da Worldcoin
Divulgação/Worldcoin
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